28 jan, 2020 - 16:27 • Sérgio Costa , enviado a Bruxelas
A verdadeira negociação arranca agora. A ideia, repetida vezes sem conta, parece traduzir um ligeiro receio quanto a pontos específicos das negociações para um acordo sobre a futura relação União Europeia-Reino Unido.
Londres quer um acordo assinado em Novembro, como impõe a lei aprovada no parlamento britânico, e fonte europeia garante à Renascença que essa será a data para assinatura de um acordo - um primeiro acordo, um ponto de partida para o que será o futuro relacionamento pós Brexit.
A futura relação comercial está por definir, mas não será, tudo indica, motivo para atritos. Um modelo semelhante ao acordo com a Noruega será o desejável para os dois lados da negociação, mas o cenário não será tão simples em matérias tão distintas como cooperação na justiça, segurança e pescas.
Neste último domínio, o problema está, de acordo com fonte europeia, centrado no controlo exclusivo que o Reino Unido vai recuperar sobre as suas águas. O que representa este cenário para as pescas europeias e, em particular, para o sector em Portugal? A comissão não tem uma resposta imediata, mas assume preocupação.
A continuidade da abertura das águas britânicas como corredor essencial para as pescas europeias pode servir como moeda de troca de Londres para vantagens comerciais. No sentido inverso, Bruxelas poderá, segundo a imprensa brtiânica, exigir o acesso a águas do Reino Unido como condição para privilégios na relação financeira com o espaço comunitário.
Este quadro leva a que, em Londres, se fale em “fish for finance”. Manter o acesso dos serviços financeiros no Reino Unido ao mercado europeu depois do Brexit pode implicar contrapartidas de acesso às águas britânicas.
A negociação adivinha-se complexa e fonte da Comissão não exclui a possibilidade de um arrastar das conversações para lá de 2020.
Apesar deste quadro de anunciada tensão, o penoso processo do Brexit terá, do ponto de vista do executivo comunitário, um efeito positivo: nenhum Estado-membro deverá, por agora, abrir a porta de saída. Esta é uma convicção firme nos corredores de Bruxelas. Respira-se de alívio, mas também é certo que em 2016 ninguém apostava no Brexit.
O Brexit concretiza-se formalmente esta sexta-feira, 31 de Janeiro, às 23h00, com um período de transição até 31 de Dezembro.
*A Renascença viajou a convite da representação da Comissão Europeia em Portugal e do Parlamento Europeu.