16 jan, 2020 - 07:15 • João Cunha , Carla Caixinha
O genoma do novo vírus já foi sequenciado por laboratórios chineses, os quais concluíram que é da família da SARS (a Síndrome Respiratória Aguda Grave), que entre 2002 e 2003 fez 648 vítimas mortais na China, incluindo em Hong Kong.
Habitualmente, alojam-se noutros animais, por exemplo, aves, morcegos e pequenos mamíferos. Até agora, apenas seis estirpes de coronavírus, entre os milhares existentes, passaram a barreiras das espécies e atingiram pessoas.
Visto ao microscópio, este vírus tem à sua volta uma espécie de espinhos que fazem lembrar uma coroa – daí o nome coronavírus.
Um estudo genético hoje divulgado confirma que o novo coronavírus com origem na China terá sido transmitido aos humanos através de um animal selvagem, ainda desconhecido, que foi infetado por morcegos.
O estudo, conduzido por cientistas chineses, incluindo do Centro de Prevenção e Controlo da Doença da China, analisou o genoma do coronavírus de nove doentes diagnosticados com pneumonia viral, na cidade de Wuhan, onde começou o surto em dezembro.
O trabalho, divulgado na publicação médica britânica The Lancet e que valida em laboratório uma tese assumida por especialistas, sugere que o novo coronavírus, designado provisoriamente pela Organização Mundial de Saúde como "2019-nCoV", teve como hospedeiro inicial um morcego e foi transmitido às pessoas através de um animal selvagem, ainda desconhecido, que era vendido no mercado de animais vivos de Huanan, em Wuhan, capital da província de Hubei, no centro da China.
Embora com cautelas, os autores do estudo admitem que o novo coronavírus não é resultado de uma mutação genética de outro coronavírus, mas pode ter entrado nas células humanas da mesma forma que o coronavírus que causou a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), também identificada pela primeira vez na China, em 2002 e 2003.
Uma nova estirpe de coronavírus - 2019-nCoV, designação provisória - teve origem na cidade chinesa de Wuhan. Apesar de a maioria das infeções se ter verificado na China, com apenas 68 casos confirmados noutros 15 países, uma transmissão inter-humana foi registada pelo menos na Alemanha.
Além do território continental da China, também foram reportados casos de infeção em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Austrália, Canadá, França, Alemanha e Finlândia.
Portugal teve um caso suspeito, mas continua livre do novo coronavírus.
As autoridades chinesas disseram que a doença teve origem num mercado de mariscos situado nos subúrbios de Wuhan, uma cidade no centro do país e um importante centro de transporte doméstico e internacional.
O vírus em causa é transmitido entre animais e passou para os seres humanos, havendo já registos de transmissão pessoa a pessoa, mas ainda em circunstâncias não totalmente fundamentadas.
O coronavírus pode ser transmitido por doentes que ainda não apresentem sintomas da doença, o que facilita a propagação da doença. O 2019-nCoV é contagioso mesmo durante o período de incubação, que pode durar até 14 dias. A revelação foi feita pela Comissão Nacional de Saúde da China.
Até ao momento, os sintomas descritos para a pneumonia viral de Wuhan são semelhantes aos de uma constipação, mas podem ser acompanhados de febre, fadiga, tosse seca e, em muitos casos, falta de ar.
Os casos de pneumonia viral alimentam receios sobre uma potencial epidemia, depois de uma investigação ter identificado a doença como um novo tipo de coronavírus, uma espécie de vírus que causa infeções respiratórias em seres humanos e animais.
O especialista do Governo chinês Zhong Nanshan confirmou que o novo tipo de coronavírus é transmissível entre seres humanos, através de contacto próximo.
As autoridades de saúde anunciaram medidas para conter a doença, incluindo desinfeção dos sistemas de ventilação de aeroportos, estações e centros comerciais. Também podem ser realizados controlos de temperatura em áreas-chave e locais movimentados.
De acordo com o balanço feito a 30 de janeiro de 2020, o número de mortos era de 170 e o total de infetados era de mais de 7.700 pessoas.
Um número indeterminado de pessoas que mantiveram “contacto próximo” com os infetados estão a ser monitorizadas, além do pessoal médico que tratou inicialmente pacientes sem a proteção adequada. O período de quarentena e observação estabelecido pelas autoridades é de 14 dias.
O surto surge numa altura em que milhões de chineses viajam, por ocasião do Ano Novo Lunar, a principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais. Segundo o Ministério dos Transportes chinês, o país deve registar um total de três mil milhões de viagens internas durante os próximos 40 dias.
Os casos alimentaram receios sobre uma potencial epidemia, semelhante à da pneumonia atípica, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou 650 pessoas na China continental e em Hong Kong.
Portugal já fez acionar os dispositivos de saúde pública devido ao coronavírus proveniente da China e tem em alerta o Hospital de São João, no Porto, o Curry Cabral e Estefânia, em Lisboa, disse a diretora-geral de Saúde (DGS).
Graça Freitas adiantou que "não há casos suspeitos em Portugal" de infeções, não existindo uma situação de alarme, mas por precaução está "com mais atenção" aos sete casos exportados fora da China.
- Evite o contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas.
- Lave frequentemente as mãos, especialmente após contacto direto com pessoas doentes.
- Evite o contacto com animais.
- Adote "medidas de etiqueta respiratória", como tapar o nariz e a boca quando espirrar ou tossir e lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir.
Se quem viajar para aquela região da China apresentar sintomas sugestivos de doença respiratória, durante ou após a viagem, deve procurar atendimento médico e informar o médico sobre a história da viagem. Poderá ainda ligar para o número de telefone 808 24 24 24 (SNS24).
Os hospitais de todo o mundo devem estar preparados para lidar com um novo grupo de vírus, anunciou esta semana a Organização Mundial de Saúde (OMS), não afastando um cenário de contágio em massa.
A diretora interina do Departamento de Doenças Emergentes, Maria Van Kerkhove, alertou ainda para a possibilidade de haver contágio entre humanos, embora ainda não haja dados suficientes para confirmar essa suspeita. O novo coronavírus, sublinhou, é semelhante a outros que surgiram nos últimos anos, como a SARS ou a síndrome respiratória do Médio Oriente (MERS).
[artigo atualizado dia 30 de janeiro]