31 jan, 2020 - 18:49 • Filipe d'Avillez
A Direção-geral da Saúde ainda não decidiu o que vai fazer com os portugueses que estão a ser repatriados de Wuhan, por causa do surto de coronavírus.
Em conferência de imprensa esta tarde, em Lisboa, Graça Freitas explicou que existem vários protocolos em cima da mesa e que a DGS já pediu a opinião a vários especialistas e seguirá a opção que for mais consensual. Existem, por enquanto, duas possibilidades.
“Tudo o que sabemos é que os passageiros vão chegar numa determinada hora e determinado dia a um aeroporto em França. O Ministério dos Negócios Estrangeiros está a gerir esta operação que é de imensa complexidade, pelos muitos contornos que tem, inclusivamente diplomáticos. Dito isto, que rastreio vai ser feito? O rastreio vai ser feito de uma de duas formas, com inquérito epidemiológico ou com análises”, explica Graça Freitas, esclarecendo que o rastreio laboratorial pode não ser 100% conclusivo se a pessoa em questão estiver no período de incubação.
“Os peritos estão a aconselhar a DG no sentido de saber se estas pessoas devem ou não fazer este tipo de rastreio”, disse ainda Graça Freitas.
Uma vez que o avião que vai buscar os portugueses, e cidadãos de outros países, à China ainda nem sequer saiu de França, e depois ainda terá de efetuar o voo de regresso a esse pais antes de seguir com os cidadãos portugueses para Portugal, não falta tempo para tomar decisões, considera Graça Freitas.
Enquanto espera, porém, a DGS vai recolhendo informações importantes sobre as pessoas em causa. “Estamos a coletar informação – e não é fácil – que nos ajude a perceber se fazem parte dos mesmos grupos. São famílias? Partilhavam casas? Estiveram expostas aos mesmos riscos? Não sabemos. Saberemos quando as equipas entrarem em contacto com elas no voo de regresso ou já em Portugal.”
Portugal não permite quarentena compulsiva
Embora alguns países já tenham anunciado que qualquer pessoa que chega de Wuhan, ou de zonas onde existe perigo sério de contágio, terá de ficar em quarentena, essa possibilidade não pode ser imposta em Portugal, uma vez que a legislação não o permite.
“Países que decidem pela quarentena têm legislação que o permite, os que não têm isso na legislação decidem como entendem. Uma das formas é falar com as pessoas e pedir que aceitem ficar em quarentena voluntária”, disse Graça Freitas.
Essa quarentena – cujo nome técnico é isolamento profilático – pode ser em domicílio ou nas instalações providenciadas pelo Ministério da Saúde, mas ainda nada está definido.
A diretora-geral da saúde faz questão de sublinhar que os 17 portugueses que chegarão de Wuhan são casos especiais. “Estas pessoas estiveram mais de 30 dias no epicentro de uma doença nova. Já estão sujeitas a quarentena e terão algum fator de stress adicional. Como pessoas especiais vão ter um tratamento especial.”
Não faz sentido, por isso, aplicar estas medidas a todas as pessoas que chegam da China, até porque não é possível determinar a origem de todos os passageiros, pois muitos fazem escalas.
O rastreio à chegada não é visto como uma medida eficaz, ao contrário do rastreio à saída. “O que se sabe hoje é que o rastreio deve ser feito à saída. A China tem feito tudo, mas mesmo tudo, para conter este surto. É a China que são os grandes rastreios à saída”, diz.
Por enquanto a única medida na chegada é a disponibilização de informação, em português, inglês e mandarim, bem como números de contacto para quem desenvolver sintomas.
Boas notícias
Graça Freitas fez questão de abrir a sua conferência de imprensa com a divulgação de boas notícias, nomeadamente o facto de por enquanto ainda não ter havido surtos fora da China, apesar de ter havido alguns casos de focos secundários.
A outra notícia boa, explicou, é que a taxa de letalidade do coronavírus tem-se mantido relativamente baixa pra um vírus novo. “É evidente que um vírus novo tem capacidade para ser agressivo e por isso esta taxa de letalidade não é muito alta.”