12 fev, 2020 - 16:24 • Marta Grosso com Bloomberg
Máscaras e luvas de borracha? Esqueça. A melhor forma de evitar o coronavírus (Covid-19) é lavar as mãos com frequência, garante o médico e consultor de várias companhias aéreas do mundo David Powell.
“Há provas muito limitadas – se é que há – do benefício das máscaras faciais. As máscaras são úteis para aqueles que estão indispostos e visam proteger as outras pessoas em redor”, afirma em entrevista à agência de notícias "Bloomberg".
“Usar sempre uma máscara será ineficaz”, pois “permitirá que os vírus sejam transmitidos ao seu redor e, pior ainda, se a máscara ficar húmida, incentivará o desenvolvimento de vírus e bactérias”, explica.
E as luvas? Podem ser “ainda piores", explica, "porque as pessoas calçam luvas e depois tocam em tudo o que tocariam com as mãos, logo é outra maneira de transferir microrganismos. E, dentro das luvas, as mãos ficam quentes e suadas, o que é realmente um bom ambiente para o crescimento de micróbios”.
Por isso, a utilização de máscaras e luvas acaba por contribuir mais para espalhar viroses do que para as deter, defende o especialista.
Então, qual a melhor maneira de nos protegermos? “No topo da lista está a lavagem frequente das mãos, a higienização das mãos ou ambas”, refere o médico.
“Ao contrário do que as pessoas pensam, as mãos são o veículo principal de transmissão destes vírus. Evite tocar no seu rosto. Se tossir ou espirrar, é importante cobrir o rosto com a manga. Melhor ainda: um tecido a ser posteriormente descartado com cuidado”, explica.
“Lavar as mãos e secá-las é o melhor procedimento. Quando isso não é fácil, o desinfetante à base de álcool é a melhor alternativa”, reforça.
Ainda de acordo com David Powell, consultor da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), os riscos de apanhar uma infeção viral dentro de um avião são menores do que num cinema ou num escritório.
Isto porque no avião “o ar é uma combinação de ar fresco e ar reciclado, cerca de metade cada", sendo que "o ar reciclado passa por filtros exatamente do mesmo tipo que usamos nas salas cirúrgicas”, logo “é garantido que esse ar seja, pelo menos, 99,97% livre de vírus e outras partículas. Portanto, o risco, a existir, não provém do ar fornecido, vem de outras pessoas”, conclui.
E tocar nos apoios de braços ou noutros objetos dentro do avião, representa algum perigo?
“Os vírus e outros micróbios gostam de viver em superfícies vivas como nós”, afirma o médico. “Apertar a mão a alguém será de longe um risco maior do que tocar numa superfície seca que não possua material biológico. A taxa de sobrevivência dos vírus nas superfícies não é ótima, portanto, acredita-se que a limpeza normal e a limpeza extra no caso de alguém estar contagioso é o procedimento apropriado”, refere.
A IATA representa cerca de 290 companhias aéreas e mais de 80% do tráfego aéreo global. Segundo David Powell, a aviação é um dos fatores que permite a rápida deslocação de vírus pelo mundo, mas é também essencial para conter os surtos.
“É por isso que a IATA colabora há vários anos com a Organização Mundial de Saúde”, refere, considerando que fechar fronteiras não é a melhor solução.
“Se os países simplesmente paralisarem durante surtos de doenças, como aconteceu no oeste da África com o Ébola, isso pode piorar as coisas”, exemplifica, acrescentando: “Durante esse surto, o país lutou, a OMS não conseguiu entrar com o seu pessoal, não conseguiu obter amostras biológicas”.
“As proibições gerais de viagem podem piorar as coisas. Isso pode incentivar as pessoas a viajarem em segredo, o que significa que se perde o controlo”, adverte o consultor da IATA.