05 mar, 2020 - 01:04 • Carla Fino com Lusa
Uma equipa de cientistas chineses identificou a estrutura completa da proteína ACE2, que o coronavírus usa para entrar nas células humanas, o que pode facilitar o desenvolvimento de possíveis terapias antivirais.
"A nossa descoberta não só ajuda a compreender a mecânica da infeção viral" como também "facilita o desenvolvimento de técnicas de deteção do vírus e possíveis terapias antivirais", dizem os autores do estudo, citados na revista Science.
A equipa, liderada por Renhong Yan, do Instituto Westlake de Estudos Avançados, analisou e descreveu a estrutura da proteína ACE2, que não se conhecia totalmente até agora.
É a proteína ACE2 que o novo coronavírus "sequestra" para entrar nas células humanas.
O surto de Covid-19, detetado em dezembro, na China, e que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou cerca de 3.200 mortos e infetou mais de 94 mil pessoas em 80 países, incluindo seis em Portugal.
Das pessoas infetadas, cerca de 50 mil recuperaram.
Há ainda registo de vítimas mortais no Irão, Itália, Coreia do Sul, Japão, França, Hong Kong, Taiwan, Austrália, Tailândia, Estados Unidos da América, Filipinas e Iraque.
A Organização Mundial de Saúde declarou o surto de Covid-19 como uma emergência de saúde pública internacional e aumentou o risco para "muito elevado".
Na opinião de Celso Cunha, director da Unidade de Microbiologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova, este é mais um avanço, mas tão cedo não vamos ter uma terapia eficaz direcionada a este coronavirus, pelo menos este ano.
"Acho que durante este ano, e até ao fim desta epidemia, nós não vamos ter doentes tratados com alguma droga eficaz e específica para este vírus. Penso que a epidemia se vai controlar através de medidas de contenção de saúde pública, mas não através de uma droga específica. Essa droga poderá, na minha perspectiva, aparecer já depois desta epidemia ter sido debelada", explica o especialista, em declarações à Renascença.
Celso Cunha afirma que há já vários investigadores e laboratórios internacionais que estão a estudar várias abordagens ao vírus e que podem também contribuir para a criação de uma vacina. No entanto, é ainda cedo: "Neste momento, é impossível saber se a vacina que vai sair, vai ser baseada em dados que foram agora revelados por esta descoberta ou se vai ser uma vacina baseada noutra abordagem que já está a ser testada."
"De qualquer maneira, esta é uma descoberta importante, porque nos permite fazer um design mais fino, eventualmente, das regiões que nós devemos abordar como alvos para neutralização da ligação da proteína do vírus que se liga, a este sector celular."
[notícia atualizada às 16h00 com declarações do director da Unidade de Microbiologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova]