05 mar, 2020 - 09:30 • Lusa
Cientistas descobriram uma nova espécie de crustáceo na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo dos oceanos, que batizaram como ‘Eurythenes plasticus’, em referência à contaminação por plástico detetada em alguns exemplares.
A nova espécie de anfípode - Ordem de crustáceos que inclui, por exemplo, a comum pulga-do-mar - foi encontrada por investigadores da Universidade de Newcastle, Reino Unido, a 6.900 metros de profundidade na Fossa das Marianas (que tem uma profundidade máxima de quase 11.000 metros), no Oceano Pacífico, entre o Japão e as Filipinas.
A descoberta, que é publicada na revista científica “Zootaxa”, foi divulgada pela organização ambientalista Associação Natureza Portugal (ANP), associada da organização internacional World Wide Fund for Nature (WWF).
“Os investigadores nomearam oficialmente a espécie ‘Eurythenes plasticus’, referindo-se ao plástico que ingeriu. No seu corpo encontraram 'tereftalato de polietileno' (PET), uma substância encontrada numa grande variedade de itens domésticos de uso comum, como garrafas de água e roupas de ginástica”, refere a ANP em comunicado.
Citado no comunicado da ANP, o diretor do programa marinho da WWF Alemanha, Heike Vesper, afirma que “a espécie recém-descoberta mostra-nos o quão abrangentes são as consequências da nossa utilização excessiva e fraca gestão de resíduos plásticos”.
“Existem espécies que vivem nos lugares mais profundos e remotos da Terra que já ingeriram plástico antes mesmo de serem conhecidas pela humanidade. Os plásticos estão no ar que respiramos, na água que bebemos e agora também nos animais que vivem longe da civilização humana”, sublinhou.
Poluição por plástico decompõe-se espalhando-se pelos oceanos
Também citado no comunicado, o chefe da missão de investigação da Universidade de Newcastle, Alan Jamieson, referiu que a escolha do nome para a nova espécie pretende ser um alerta para a necessidade de medidas que impeçam o “dilúvio de resíduos plásticos” nos oceanos.
O comunicado recorda o trajeto da poluição por plástico, que passa por taxas reduzidas de reciclagem, a exportação de resíduos para o sudeste asiático e o encaminhamento para aterros ou queimas, chegando a rios e oceanos.
“Uma vez na água, a poluição por plástico decompõe-se em microplásticos e nanoplásticos, espalhando-se pelos oceanos, onde é ingerido por animais marinhos como o ‘E. Plasticus’", refere o comunicado.
Ainda assim, nem todos os exemplares da nova espécie que foram recolhidos pelos cientistas apresentam sinais de contaminação, o que para a ANP é um indicador de esperança e de alerta para a necessidade de proteger animais marinhos, os seus habitats, a cadeia alimentar e, consequentemente, a saúde humana.
O comunicado da ANP recorda a iniciativa da WWF em prol de um acordo global juridicamente vinculativo sobre a redução do desperdício de plásticos, melhoria da gestão de resíduos e medidas para travar o encaminhamento de plásticos para os oceanos, tendo lançado uma petição pública já assinada por 1,6 milhões de pessoas em todo o mundo.