10 mar, 2020 - 20:16 • Redação com Lusa
A Guarda Nacional Bolivariana reprimiu esta terça-feira um protesto convocado pela oposição no leste de Caracas, capital da Venezuela, através do qual manifestantes pretendiam chegar à sede do parlamento para apoiar o líder da oposição, Juan Guaidó. Os manifestantes partiram da Praça Juan Pablo II, em Chacao, e ao chegarem a Chacaíto (no centro, a quase três quilómetros de distância) foram barrados por dezenas de polícias que, em alguns momentos, os superavam em número.
Em motocicletas e atrás de equipamentos antimotim, os polícias lançaram bombas de gás lacrimogéneo e um spray vermelho contra os manifestantes, alguns dos quais responderam atirando pedras.
A repressão ocorreu depois de Juan Guaidó pedir às forças de segurança que permitissem a passagem dos manifestantes. Os manifestantes acabaram por mudar o destino do protesto, que passou a ser a Praça Alfredo Sadel de Las Mercedes, onde se decorre uma assembleia de deputados opositores.
"Sabíamos das intenções da ditadura e estávamos preparados. Cumprimos com o objetivo de hoje, em todo o país. Demonstrámos que não há medo e vamos aprovar um roteiro nacional" de protestos, disse Juan Guaidó aos jornalistas.
Entretanto, a imprensa local dá conta de manifestações da oposição em várias regiões da Venezuela e também de várias estradas terem sido bloqueadas pela Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar), entre as quais a Guarenas--Caracas, dificultando a circulação em direção à capital.
Por outro lado, centenas de apoiantes do regime do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, concentraram-se hoje em vários locais de Caracas, para marchar também até à sede do parlamento. A iniciativa visou apoiar a Assembleia Constituinte (composta unicamente por simpatizantes do regime) e o Governo, mas também pela paz e contra as sanções norte-americanas e para assinalar o papel da mulher na sociedade venezuelana.
Em PDVSA La Campiña, um dos pontos de encontro, era notória a baixa afluência de manifestantes pró-regime, em contraste com o registado na Praça Morelos, onde mais de mil pessoas condenaram "as sanções dos EUA contra a paz" na Venezuela.
Oposição convoca nova manifestação para dia 12
A oposição venezuelana aprovou hoje um manifesto de luta contra o regime e convocou, para a próxima quinta-feira, dia 12, uma nova manifestação em que deverão participar também os estudantes. A convocatória foi feita pelo líder opositor Juan Guaidó, depois de a polícia venezuelana ter reprimido hoje uma manifestação que partiu de Chacao (leste) em direção ao parlamento (centro) e foi desviada para Las Mercedes (sudeste).
"Estejam atentos porque na quinta-feira também haverá uma manifestação (...) hoje a luta dos estudantes, da saúde, dos professores, dos parlamentares e das mulheres, é também a nossa luta", disse Juan Guaidó para alguns milhares de manifestantes. Segundo Guaidó, a oposição é "uma poderosa maioria que pode mudar" a Venezuela, um país ao qual chegará a liberdade, reclamou.
Em Las Mercedes, quase uma centena de deputados opositores aprovaram um manifesto de luta cujo texto inclui a recusa em "se habituar às mentiras da ditadura, entre elas que o país está bem". O texto salienta ainda que "protestar e lutar é um direito e um dever".
O manifesto, segundo a oposição, irá recolher as exigências de distintos setores da sociedade venezuelana, em particular dos sindicatos e no que se refere à saúde, serviços básicos, salários, liberdade de expressão, reconstrução das instituições, educação e autonomia universitária. O documento reclama ainda a convocatória de eleições presidenciais livres no país.
A crise política, económica e social na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando o presidente da Assembleia Nacional (parlamento) e líder da oposição ao regime, Juan Guaidó, jurou publicamente assumir as funções de presidente interino até conseguir afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um governo de transição e promover eleições livres no país.
Mais de 50 países apoiam o autoproclamado presidente interino da Venezuela, entre eles Portugal, uma decisão tomada no âmbito da União Europeia.
Desde janeiro último que a oposição tem dificuldades em aceder à sede do parlamento, onde funciona também a Assembleia Constituinte.