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Depois da guerra, a Covid-19 é o pior inimigo de Angola

20 mar, 2020 - 07:25 • Luís Aresta

Quebra do preço do petróleo vai agravar cenário de crise no território. Impacto da Covid-19 já se sente nas ruas e na economia.

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Os sinais de que o novo coronavírus está a chegar a Angola avolumam-se, com a corrida aos supermercados a acentuar-se nos últimos dias, apesar da população se ver confrontada com dois problemas - a escassez de produtos nas prateleiras (sobretudo os importados) e a falta de dinheiro no bolso. No mercado paralelo, na quinta-feira, eram necessários 650 kwanzas (moeda nacional de Angola) para adquirir 1 euro. Ao câmbio do dia, um euro equivale a 560 kwanzas.

A preocupação crescente no país encontra tradução nas palavras do empresário angolano Victor Paulo que confessa à Renascença, a partir da capital angolana, que até há bem pouco tempo não imaginava um cenário tão complexo como aquele que agora se começa a viver; cenário que afetará sobretudo os angolanos, mas não deixará de ser sentido pelos muitos portugueses e outros estrangeiros residentes ou a trabalhar em Angola.

A falta de profissionais de saúde é o problema mais preocupante que Victor Paulo assinala, fazendo notar que a classe política deve aproveitar o momento para "perceber que tem de investir seriamente no sistema de saúde do país". Os hospitais públicos acusam as mais diversas carências e uma simples ida uma das várias clínicas privadas existentes em Luanda pode custar 40 ou 50 mil Kwanzas, o equivalente ao salário mínimo em vigor no país. Foi já com a Covid-19 a ameaçar Angola que o Presidente da República, João Lourenço, determinou, num decreto publicado nas últimas horas, que a Ministra das Finanças deve assegurar recursos financeiros extraordinários, especificamente para a preparação das equipas, prestação de assistência e realização de ações de vigilância epidemiológica, de forma a a prevenir e conter a expansão da pandemia.

Quebra no preço do petróleo agudiza crise

Victor Paulo não deixa, porém, de sublinhar que o governo angolano está confrontado com uma dura realidade, profundamente preocupante, e com a qual não contava no final do ano passado: a queda abrupta nos preços do mercado mundial de petróleo, matéria-prima que garante a grande fatia do orçamento geral do estado angolano. "O orçamento para 2020 foi elaborado numa expetativa de 55 dólares por barril; a cotação atual não chega aos 30 dólares e o governo não terá outra alternativa que não seja retificar o orçamento", assinala o empresário que, no plano estritamente económico, constata que o momento já está a ser aproveitado por aqueles que em Angola produzem ou vendem artigos de higiene e saúde.

A poucas horas de serem suspensos, por 15 dias, os voos internacionais de e para Angola, o empresário - que também mantém negócios em Portugal - confessa forte inquietação pelo impacto da medida, apesar de o transporte de mercadorias continuar assegurado.

Os angolanos - sobretudo os que preenchem a ampla faixa socialmente mais desprotegida da população - podem esperar dias muito difíceis. Victor Paulo deixa-o bem expresso, nesta breve conversa a partir da capital de Angola.O empresário, nascido no Huambo, não deixa porém de reconhecer que "pior... foi a guerra".

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