23 mar, 2020 - 15:31 • Dina Soares
Veja também:
A central nuclear de Almaraz poderá ser obrigada a fechar caso não consiga garantir o fornecimento de material de recarga. Esta operação, que consiste na substituição dos elementos de combustível essenciais para a produção de energia elétrica, estava prevista para o próximo domingo, dia 29, mas, devido às restrições impostas em Espanha por causa da epidemia de Covid-19, foi adiada para 14 de abril.
Em declarações à Renascença, o ambientalista António Eloy, dirigente do Observatório Ibérico de Energia, diz que “Almaraz debate-se ainda com um enorme problema de falta de pessoal, já que um terço dos seus trabalhadores estão em casa, de quarentena ou infetados”.
Esta falta de pessoal deixa a central muito mais desprotegida. “Todas as centrais têm um número estabelecido de funcionários para poderem trabalhar. Isto para que quando há falhas – e em Almaraz tem havido imensas – elas possam ser logo detetadas. A vigilância tem que ser intensa. Se não for, a falha pode transformar-se num desastre.”
Acresce que o fornecimento de combustíveis e de peças para substituição está também a ser afetado. Este problema, aliado ao decréscimo do consumo de energia elétrica provocado pelo abrandamento da atividade económica, já levou, aliás ao encerramento de duas centrais em França e de uma na Grã-Bretanha.
Exército assume segurança das centrais nucleares
Entretanto, o Governo espanhol está a substituir a Guardia Civil por militares na segurança das sete centrais ainda em funcionamento no país.
António Eloy apurou junto dos membros do Observatório em Espanha, que “a presença do Exército está a causar alguma tensão entre as populações, já bastante abaladas com a gravidade da epidemia de Covid-19.” Além disso, as explicações avançadas pelas autoridades para esta mudança – “riscos de segurança externa ou interna” não especificados – agravam o clima de suspeição.
A central de Almaraz, a maior do país, fica a cerca de 100 quilómetros da fronteira portuguesa e usa a água do rio Tejo para refrigeração. Recentemente, o governo espanhol autorizou o prolongamento do tempo de vida desta e de outras centrais até aos 40 anos. No entanto, António Eloy acredita que algumas vão ter que fechar antes do termo do prazo. “A Autoridade de Segurança Nuclear impôs um conjunto condições de funcionamento tão severas que muitas poderão não ter capacidade de as respeitar e terão mesmo que fechar.”