25 mar, 2020 - 08:41 • Redação
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Bruce Aylward, conselheiro da Organização Mundial de Saúde, é um dos médicos na linha da frente do combate ao coronavírus e acredita que os países ocidentais não souberam aproveitar o tempo que tiveram para preparar a chegada do coronavírus. Em entrevista à revista “TIME”, o médico fala da abordagem dos países e a desvalorização do vírus.
“Não gosto de usar a palavra ‘desperdiçar’, mas provavelmente não usámos bem o tempo. Ganhámos tempo ao fechar os sítios, mas isso só compra tempo, não o trava. Nesse tempo temos de testar, melhorar o sistema de saúde, de forma a que possamos lidar com os casos. Se nos limitarmos a fechar as sociedades e a economia e esperar pelo melhor, não vamos conseguir travar o vírus. Isto é um combate de guerrilha contra o vírus. Se ficarmos parados, ele vai andar de casa em casa. Estes países [Estados Unidos e países europeus] ganharam tempo, mas não o otimizaram, por diferentes motivos. Alguns países continuaram a achar que era só uma gripe e outros simplesmente não tinham capacidade para testar”, começa por dizer.
O conceituado médico perspetiva três meses de recuperação para os países que se dediquem totalmente a combater a propagação do vírus, como fez a China.
“Conseguimos ter vislumbres do futuro dos locais que estão infetados. A China identificou o vírus em janeiro, foram com tudo contra ele e no final de março devem estar a sair da situação. Mas estamos num período de crescimento exponencial. Estes países têm um desafio de meses à frente deles”, explica.
O alerta é deixado por Fernando Maltez, diretor do(...)
Bruce Aylward não nega que o vírus possa ser extremamente difícil de erradicar totalmente e tornar-se cíclico.
“Daqui a seis meses devemos estar a emergir, com muitos países a sair da situação. Mas daqui a seis meses volta a época da gripe. Poderemos ver uma nova vaga de coronavírus? Pode desaparecer totalmente? Muitos acreditam que este cenário é muito, muito improvável, porque se transmite muito facilmente. Poderá acontecer por ciclos ou tornar-se numa doença de baixo nível”, perspetiva.
O que pode alterar o rumo da propagação do vírus é a ação de cada país. Para o conselheiro da OMS, tirar o pé do travão pode implicar um regresso do coronavírus no futuro.
“Acho que vai depender do que fizermos enquanto países e sociedades. Se testarmos todos os casos e os isolarmos rapidamente, conseguiremos manter o número de casos baixo. Mas se simplesmente acreditarmos nestas medidas de encerramento sem encontrar os casos, cada vez que tirarmos o pé do travão, pode voltar num ciclo. Francamente, o futuro pode ser determinado pela nossa resposta”, acrescenta.
Apesar de não poupar nos cenários possivelmente catastróficos da doença, Aylward acredita que tudo terminará com mais “uma vitória da Humanidade contra mais um vírus”: “A única questão é o quão rápido vamos ser a tomar as medidas necessárias para minimizar os danos. A seu tempo, teremos medicamentos e vacinas, estamos numa corrida contra o tempo. Tudo isto vai exigir paciência da população”.
O primeiro epicentro da propagação do novo coronavírus começa a dar sinais de recuperação, depois dos números de infetados por dia ter reduzido exponencialmente. No entanto, Bruce Aylward garante que a China já se prepara para uma nova vaga de infeções.
“A China está preocupada. Quando viajei até lá, quando falei com governadores, os casos estavam a descer. Perguntei o que estavam a fazer e ele disse que estavam a construir camas, comprar ventiladores e a preparar-se. Eles não esperam que o vírus desapareça, mas querem continuar com a sua sociedade, economia e gerir o sistema nacional de saúde”, remata.