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São Tomé e Príncipe sem casos de Covid-19. Será?

03 abr, 2020 - 11:20 • João Cunha

São Tomé e Príncipe é um dos poucos países do mundo que, oficialmente, não apresenta casos de infeção por Covid-19. As autoridades locais prolongaram o estado de emergência sanitária, que impede ajuntamentos. Mas há um dado que salta à vista: não estão a ser feitos testes entre a população. O que torna difícil garantir a inexistência de casos.

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Não haverá testes para a população. E mesmo que houvesse, não há nenhum laboratório em território são-tomense que os realize. Nem voos para que sejam enviados para um laboratório que os realize.

Prova disso, o facto de o governo de São Tomé e Príncipe ter enviado para Portugal, em finais de março, amostras de passageiros instalados em quarentena, em dois hotéis da capital e no centro de estágio da Federação São-tomense de Futebol.

À Renascença, o ministro da Saúde de São Tomé e Príncipe revela que o que estão a fazer é a seguir epidemiologicamente a população. “De acordo com os nossos recursos, fazemos o seguimento do ponto de vista epidemiológico e clínico. Não temos neste momento as confirmações laboratoriais internamente. As amostras que temos recolhido são feitas fora do país, nomeadamente em Portugal”, sublinha Edgar Neves.

Amostras que vieram para Portugal num dos últimos voos de repatriamento de portugueses. Só que nesta nesta altura, não há voos de e para São Tomé. Razão pela qual Maria Mendes, uma portuguesa que reside em São João dos Angolares, a cerca de 50 quilómetros de São Tomé, desconfia que possam existir casos.

“Não estou segura nessa informação. O facto de não serem confirmados por teste não quer dizer que não haja. Não há conhecimento de pessoas em situação crítica, a necessitar de ventilação. Porque senão já sabíamos.”

Mas esta portuguesa sublinha que “o facto de as pessoas estarem a ser observadas a olho nu não ser uma medida muito acertada”. Porque poderão existir assintomáticos portadores do vírus.

Haverá ainda falta de informação, sobretudo para quem vive fora da capital. “As pessoas não sabem muito bem o que se está a passar”, explica Maria Mendes.

Campanha de sensibilização

O ministro da Saúde revela que “desde o início que se desaconselharam concentrações de pessoas e foi lançada uma campanha com vista à mudança de comportamentos”. Tudo evoluiu até ao decreto presidencial que levou ao estado de emergência de saúde pública. Que obrigou a um maior controle dos pontos de entrada. Num deles, o porto de São Tomé, as medidas vão ser mais rígidas.

“Todas as medidas de desinfestação a serem tomadas, desde o convés dos navios à proteção individual das pessoas vão ser reforçadas. A ligação entre os elementos das autoridades sanitárias, a polícia fiscal e a ENAPOR, a empresa de transportes, será reduzida”. E nos próximos navios a chegaram ao porto “tudo será feito à distância. Toda a informação chegará ao país doze horas antes da chegada do navio”.

Marta Freitas, outra portuguesa radicada há 15 anos na cidade de São Tomé, diz que se sentem já diferenças no país, face à ameaça do Covid-19. Sobretudo, em termos económicos. “Poderemos realmente ainda não ter as ditas situações diagnosticadas, se realmente existirem, mas já se está a sentir uma diferença muito grande aqui no país. A nível da economia, o país está muito mais parado. Por exemplo, eu trabalho em três áreas distintas – educação, hotelaria e turismo – e as minhas áreas estão completamente paradas.”

Isolamento social?

Assegura que se nota o efeito do isolamento social. “O governo pede um isolamento social. Para que não haja aglomerados de pessoas. Mas não há ainda a proibição de circulação. Por exemplo, eu vivo perto de uma praia, sei que no fim de semana havia várias pessoas na praia e a polícia sensibilizou-as a saírem.”

Já Maria Mendes não vê esse isolamento social. Nem a sensibilização da população para essa necessidade. “Não é sequer possível isso acontecer, porque a vida deles é na rua. Só entram em casa para dormir”.

Mas se a Covid-19 chegar a São Tomé, a situação vai ser complicada. “Se o vírus entra em São Tomé, não acredito que haja preparação”, diz Maria Mendes. “Se não há em países desenvolvidos, aqui muito menos. Será uma razia”.

Para já, em São Tomé e Príncipe, ninguém apresentou temperaturas altas e também não têm apresentado sintomas que possam corresponder ao coronavírus.

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