06 abr, 2020 - 09:29 • João Cunha
Pelo menos desde 2006 que os líderes mundiais que todos os anos se reúnem em Davos para o Fórum Económico Mundial estão avisados para os riscos que uma pandemia nos sistemas de saúde.
Os alertas constam do Global Risk Report, um relatório anual apresentado em cada Fórum Económico Mundial e onde os analistas que o redigem têm vindo a alertar para a pressão e o colapso que os sistemas de saúde de todo o mundo.
"Nos últimos anos, foi mencionada a fragilidade dos países numa potencial pandemia, independentemente de já termos passado por várias epidemias e por uma pandemia de gripe A", afirma à Renascença Fernando Chaves, especialista na Marsh Portugal, uma multinacional de gestão de risco que está presente em 130 países e que participa na elaboração do relatório.
Este analista lembra que, no ano passado, já houve um capítulo inteiro no relatório dedicado à questão dos vírus. Contudo, "passou ao lado de quem toma decisões".
Na opinião de Fernando Chaves, os alertas que estão a ser lançados há mais de uma década "já deviam estar a ser discutidos e as medidas a ser implementadas ao nível global".
Dois motivos podem explicar a surdez perante estes alertas. "Primeiro, porque foram dados em cima de uma crise económica global que obrigou a cortes – e, portanto, o investimento em termos de saúde não era propriamente o mais indicado. Por outro lado, foi sempre visto como algo que podia acontecer, mas na verdade não era muito facilmente tangível".
Ora, do ponto de vista político, tomar decisões para medidas que não são tangíveis não é simples. Em alternativa, o que os políticos fizeram foi direcionar os sistemas de saúde para outras respostas.
"Estiveram muito focados nas doenças crónicas. Mas deveriam estar preparados para dar resposta a problemas agudos – como alertou a OMS – e não apenas às questões crónicas", aponta Fernando Chaves.
O novo coronavírus surgiu na China, em dezembro de 2019 e é o responsável pela pandemia de Covid-19, que já afetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo. Mais de 68 mil morreram e mais de 283 mil recuperaram e são consideradas curadas.