15 abr, 2020 - 15:33 • Dina Soares
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“Um crime contra a Humanidade”, “um ato condenável que irá custar muitas vidas”. São frases usadas pelos mais importantes especialistas na área da saúde para classificar a decisão do Presidente norte-americano de cortar o financiamento à Organização Mundial de Saúde (OMS).
Donald Trump anunciou, esta terça-feira ao fim do dia, a sua decisão de suspender a contribuição do seu país para a OMS durante um período de 60 a 90 dias, a fim de avaliar o papel da instituição, que acusa de ter administrado muito mal esta crise, contribuindo para encobrir a disseminação do vírus.
Esta decisão do maior contribuinte singular para a OMS está a ser condenada em todo o mundo.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já veio dizer que a OMS é absolutamente essencial no esforço global para vencer a guerra contra a covid-19 e que não é o momento de cortar fundos ou apontar erros. "Quando virarmos a página, haverá tempo para olharmos para trás, percebermos como é que esta doença surgiu e se espalhou tão rapidamente e de que forma todos os envolvidos reagiram à crise”, afirmou Guterres.
Numa mensagem publicada no Twitter, Richard Horton, director da importante revista médica The Lancet, deixa um apelo: “Todos os cientistas, todos os trabalhadores da área da saúde, todos os cidadãos devem resistir e rebelar-se contra esta traição atroz contra a solidariedade global.”
Richard Horton considera que cortar fundos à OMS em plena pandemia de Covid-19 representa “um crime contra a Humanidade”.
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Do mundo universitário chegam também condenações vigorosas à decisão de Trump. Amesh Adalja, professor catedrático no Centro de Segurança na Saúde da Universidade Johns Hopkins, reconhece que a OMS cometeu erros e talvez precise de algumas reformas, mas agora não é a altura certa para as fazer.
Nahid Bhadelia, médico infeciologista e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Boston, considera que “este corte é um completo desastre já que a OMS é um parceiro técnico global, uma plataforma através da qual os países partilham informação e tecnologia, é o nosso olhar na mira contra esta pandemia”.
Portugal também já condenou a decisão do presidente norte-americano. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, “é tempo de apoiar a OMS e não de a enfraquecer”.
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A Organização Mundial de Saúde tem estado debaixo de fogo devido a alguns aspetos da sua ação nesta crise. Trump acusa a OMS de ser muito deferente com a China, especialmente tendo em conta a supressão inicial de informação por parte do Partido Comunista Chinês e a penalização de quem denunciou a situação.
O aspeto mais criticado é a informação transmitida a 14 de janeiro, segundo a qual “as investigações preliminares conduzidas pelas autoridades chinesas não encontraram provas claras de transmissão entre seres humanos”.
Embora, nos briefings técnicos realizados na mesma altura, a OMS tenha dito aos seus parceiros que a transmissão entre humanos era uma forte possibilidade, tendo em conta a experiência passada com outros coronavírus, e que era, portanto, aconselhável tomar medidas de precaução.
A decisão de Donald Trump só recebeu o apoio de Taiwan – excluído da OMS por pressão da China – e de Joshua Wong, ativista pró-democracia de Hong Kong, que considera a OMS como “um braço da diplomacia chinesa”.