23 abr, 2020 - 01:08 • Filipe d'Avillez
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A abordagem feita pela Islândia à pandemia do novo coronavírus, apostando nos testes em larga escala e no isolamento social rigoroso, é a mais adequada para evitar a propagação da Covid-19.
A conclusão é de um estudo publicado recentemente na revista "New England Journal of Medicine", que parte do facto de a Islândia estar no topo da lista de testes por milhão de habitantes, o que tem permitido identificar e isolar vários casos de infetados assintomáticos que, de outra forma, continuariam a espalhar a doença.
Como apontava a agência Bloomberg há alguns dias, a Islândia é o laboratório perfeito para estudar a Covid-19.
Com pouco mais de 360 mil habitantes, a ilha adotou a estratégia de fazer testes em massa a 31 de janeiro, cerca de um mês antes de ter sido registado o primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus no país. Desde então, foram feitos mais de 38 mil testes, o equivalente a cerca de 10% da população.
Os testes abrangeram, desde o início, pessoas que apresentavam sintomas de infeção pelo novo coronavírus (tosse, febre, dores no corpo e dificuldades respiratórias), que tinham acabado de regressar à Islândia de zonas identificadas como sendo de alto risco pelas autoridades de saúde islandesas (áreas montanhosas da China e dos Alpes na Áustria, Itália e Suíça) ou que tivessem estado em contacto com infetados.
Foi com base nas informações recolhidas através desta testagem que a Direção-Geral da Saúde islandesa e o Hospital Universitário Nacional desenvolveram um estudo em parceria com a empresa deCODE genetics, subsidiária da multinacional farmacêutica Amgen.
Num comunicado enviado à Renascença pela Amgen, empresa que opera em Portugal, em contratos com unidades hospitalares do Sistema Nacional de Saúde (SNS), lê-se que o trabalho conjunto permitiu sequenciar o SARS-CoV-2 e várias das mutações que existem do novo coronavírus só naquele país. O estudo concluiu que existem pelo menos 291 mutações, muitas das quais ainda por identificar noutros países.
O estudo permitiu ainda determinar que a variante prevalecente do vírus no início da pandemia na Islândia era originária da estirpe que alastrou em Itália e na Suíça, tendo sido importada por islandeses que regressavam de férias em estâncias de esqui.
Contudo, foi também identificada uma segunda vaga de infeções na Islândia com a estirpe prevalecente no Reino Unido, o que sugere que a doença chegou à ilha vinda de vários locais diferentes, pelo que abordagens simples de fechar fronteiras com uma só região não serão eficientes para combater a proliferação da Covid-19.
A melhor forma de o fazer, dizem os responsáveis pelo estudo, é mesmo apostar nos testes em massa e no isolamento de todos os que estão infetados.