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Coronavírus. Fugir de Espanha custa aos migrantes dez vezes mais do que entrar

24 abr, 2020 - 21:30 • Ana Carrilho

Por causa da pandemia Covid-19, há cada vez mais imigrantes a querer “fugir” de Espanha e regressar ao país de origem. Sempre “de olho no negócio”, as máfias cobram agora mais de cinco mil euros para levar um marroquino ou um argelino para casa. Ou seja, dez vezes mais do preço para chegar à costa espanhola, à procura de uma vida melhor. Dados divulgados esta sexta-feira pelo jornal El País, que teve acesso a um documento da União Europeia.

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Pagaram às redes de tráfego de seres humanos para os levar de barco até Espanha onde esperavam encontrar emprego e uma vida melhor. Mas com a economia parada por causa da Covid-19, sem trabalho, sem rendimentos e sujeitos ao contágio num dos países europeus em que a doença tem feito mais vítimas, são muitos os imigrantes que querem voltar aos seus países, nomeadamente marroquinos. A única hipótese é recorrer, novamente, às máfias que, atentas à procura, cobram muito mais pelo regresso.

Um documento interno da União Europeia a que o jornal espanhol El País teve acesso, relata os detalhes de uma travessia feita por cerca de uma centena de marroquinos. E revela-a como exemplo de flexibilidade das máfias.

“Os traficantes de migrantes mostram extrema flexibilidade e adaptabilidade nos seus negócios, organizando agora também as viagens de imigrantes ilegais que fogem da Covid-19”, cita o jornal.

No fim do mês passado, cada um dos elementos desse grupo de migrantes (a maioria, ilegais) pagou 5.400 euros para fazer a travessia do Estreito de Gibraltar num bote insuflável até a uma praia de Larache, em Marrocos.

O “preço normal” para ir de Marrocos para Espanha oscila entre 400 e mil euros. Ou seja, pagaram cerca de dez vez mais para fugir da pandemia.

Uma viagem relativamente curta, mas cheia de “aventuras”: quando chegaram à costa foram surpreendidos por ondas enormes que os obrigaram a ficar no mar o dia inteiro.

A partir do bote, pediram ajuda a outro “facilitador” que lhes cobrou mais 300 euros só para os fazer chegar à praia. Depois, espalharam-se para fugir à polícia, mas as autoridades, que receberam informação sobre o desembarque, iniciaram buscas, casa a casa e apanharam pelo menos um dos migrantes.

Marrocos, o terceiro país africano com mais casos depois da África do Sul e Egito (cerca de três mil casos confirmados) impôs severas restrições para conter a propagação do vírus. No dia 13 de março fechou as fronteiras e nem os trabalhadores fronteiriços conseguiram regressar a casa, apesar dos esforços da ministra dos negócios estrangeiros espanhola. Centenas, que trabalham em Ceuta e Melilla, de repente, ficaram do lado errado da fronteira.

Os argelinos também estão a recorrer aos barcos clandestinos para regressar ao seu país, o quarto com mais casos de COVID-19 em África. Não apenas de Espanha, mas também, de Itália.

Milhão e meio de estrangeiros abandonaram Espanha nas últimas semanas

A ministra Arancha González Laya revelou quinta-feira, no Congresso, que o governo espanhol ajudou cerca de milhão e meio de estrangeiros a regressar ao seu país, comunitários e extracomunitários.

Segundo a chefe da diplomacia, a maior parte eram turistas ou pessoas que, por algum motivo se encontravam em Espanha, nomeadamente, estudantes de Erasmus.

Pela primeira vez, número de altas supera o de novos casos

Nas últimas 24 horas morreram 367 pessoas em Espanha por Covid-19, menos 73 do que na quinta-feira.

Significativo é ainda o facto de pela segunda vez, o número de vítimas mortais se ter situado abaixo das 400.

Outro dado importante salientado pelas autoridades de saúde espanholas é o facto de, nas últimas 24 horas, pela primeira vez, se terem registado mais altas do que novos casos: 3105 altas e 2796 novos casos.

22.524 pessoas já morreram em Espanha e há quase 203 mil infetados, mais 6740 do que ontem. Entre eles, contam-se 35.295 profissionais de saúde.

As pessoas consideradas curadas são agora 92.355.

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