24 abr, 2020 - 23:01 • Filipe d'Avillez
No Brasil, Sérgio Moro já é ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.
À saída acusou o Presidente de interferência política ao demitir diretor-geral da Polícia Federal (PF), disse que Jair Bolsonaro não cumpriu a palavra de lhe dar carta branca no seu ministério e foi mais longe, acusando o Chefe de Estado de fraude por ter falsificado a sua assinatura no documento que demite o diretor-geral da PF.
Sérgio Moro diz que durante a reunião em que Bolsonaro disse que queria exonerar o diretor-geral da PF e também o superintendente do Rio de Janeiro, ambos homens da confiança pessoal do agora ex-ministro da Justiça, terá perguntado diretamente ao Presidente se este é um caso de interferência política.
“Ele respondeu ‘É’”, disse Sérgio Moro, acrescentando que o diretor-geral que foi demitido apenas tinha feito o seu trabalho.
Contudo, de acordo com a imprensa brasileira, Moro acusa ainda Bolsonaro de práticas que constituem crimes. Para além da alegada falsificação da assinatura de Moro, Bolsonaro terá tentado intervir diretamente em investigações, incluindo uma que envolve o seu filho Carlos Bolsonaro, e de pedir relatórios secretos.
No final das suas declarações, Moro disse que abandonava o cargo por não poder fazer o seu trabalho.
Mais tarde o próprio Presidente reagiu, dizendo que era o que mais faltava ter de pedir autorização a Moro para efetuar mudanças na Polícia Federal e acusando-a de se ter preocupado mais com o assassinato da ativista de esquerda Marielle Franco do que com a tentativa de homicídio de que ele próprio foi vítima durante a campanha para as presidenciais.
“Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o ministro, não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Eu nãõ tenho de pedir autorização a ninguém!”
“Será interferência na Polícia Federal quase ter de implorar a Sérgio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sérgio Moro mais se preocupou com Marielle [Franco] do que com o seu Chefe Supremo”, acusou ainda.
Bolsonaro diz também que Sérgio Moro tentou aproveitar a vontade de Bolsonaro de demitir o diretor-geral da PF para negociar uma nomeação para o Supremo Tribunal, mas Moro já veio publicamente negá-lo, dizendo que se fosse esse o caso não teria apresentado logo a demissão na quinta-feira.
Bolsonaro diz que nunca pediu que Moro interferisse na polícia para o “blindar” de qualquer investigação, mas por outro lado não explicou em nenhuma altura o aparecimento da assinatura de Moro no documento de demissão, insistindo apenas, e várias vezes, que jamais se deixaria ter de rebaixar a um subordinado.
O Presidente lamentou que a imagem que tinha de Sérgio Moro, que enquanto juiz teve a seu cargo todo o processo Lava Jato, que levou à prisão de Lula da Silva e à destituição de Dilma Roussef, não correspondesse à verdade. “Uma coisa é a imagem de uma pessoa, outra é ter de conviver com ela”, disse, afirmando ainda que “eu sempre abri o meu coração para ele, duvido que ele alguma vez se abriu para mim”, segundo o jornal brasileiro “Folha de São Paulo”. O problema de Moro, disse Bolsonaro, é um problema de ego.
Em aberto fica a possibilidade de Sérgio Moro, que em sondagens recentes tem tido índices de popularidade superiores aos de Bolsonaro, vir a candidatar-se a Presidente da República. Moro não o negou nem confirmou, mas insiste em dizer que estará sempre disponível para servir o Brasil.