19 mai, 2020 - 08:47 • Miguel Coelho , Marta Grosso
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As temperaturas estão a subir e o Verão começa a bater à porta, o que volta a colocar a questão de saber até que ponto o calor pode ajudar a enfraquecer a pandemia que atravessamos. Mas será assim?
É verdade que o novo coronavírus pode desaparecer com o Verão?
Os cientistas continuam sem ter certezas absolutas. Alguns estudos defendem que é indiferente se está ou não calor – o vírus propaga-se na mesma. Outros estudos sugerem que as temperaturas mais elevadas e a luz do Sol podem, de facto, ter um papel importante – se não para acabar com a pandemia, pelo menos para a abrandar.
Mas como é possível que, passados vários meses, ainda não haja uma conclusão entre os cientistas?
Por várias razões. A primeira é que as condições do mundo real são mais difíceis de recriar em laboratório do que se possa pensar.
Depois, porque as combinações de temperatura e humidade podem variar muito de país para país ou mesmo de região para região e os próprios tipos de vírus podem ser uns mais resistentes do que outros às oscilações do clima.
Por isso, não é de estranhar que tenhamos de esperar pelo Verão "real" para tirar as dúvidas sobre se a pandemia, pelo menos em Portugal, vai ou não enfraquecer o SARS-COV2.
Então, até agora, o que dizem os especialistas?
Há os mais céticos, em que se inclui a própria Organização Mundial de Saúde (OMS), cujos especialistas defendem que o tempo quente não tem qualquer efeito contra o novo coronavírus.
Um dos principais estudos sobre o assunto foi feito no Canadá e analisou a pandemia em mais de 100 locais em todo o mundo. Concluiu que nem a temperatura, nem a latitude têm influência na propagação da Covid-19. Quando muito, admite, a humidade pode ter um papel ligeiramente positivo.
A vacina está a ser desenvolvida pela empresa Mode(...)
Mas há também quem pense o contrário. Um estudo do Governo norte-americano concluiu que a luz ultravioleta do Sol, a incidir diretamente, consegue reduzir para metade a quantidade de vírus numa superfície lisa em apenas dois minutos. Ou seja, não impediria que uma pessoa fosse infetada por outra, mas poderia diminuir os vírus existentes na atmosfera ou em superfícies ao ar livre e, dessa forma, contribuir para que houvesse menos contágios.
Também a Universidade de Washington calcula que, por cada grau Celsius de aumento da temperatura, a transmissão da Covid-19 se reduz em quase 2%.
Então e o vírus sempre se transmite através das superfícies?
Há dúvidas. Segundo a OMS, não foi possível ainda obter provas de que o novo coronavírus se transmita quer pelo contacto com superfícies, quer com objetos contaminados, como maçanetas de portas ou teclados de computador.
A lógica indica que sim, os estudos em laboratório também, mas - lá está – na vida real ainda não foi possível provar que um doente tivesse sido contaminado através da chamada transmissão indireta.
A confirmar-se que essa transmissão não existe, ou que é mais difícil do que se pensava, seria um grande passo para controlar a pandemia. Mas a Organização Mundial de Saúde lembra que o melhor mesmo é prevenir e, por isso, continua a recomendar a limpeza frequente das superfícies e dos objetos para reduzir os riscos de contaminação.
O que queríamos mesmo era uma vacina. Em que ponto estamos?
As investigações parecem bem encaminhadas, o problema é que, para se ter a garantia de que uma vacina é eficaz e segura, tem de passar por várias fases de testes em laboratório e em seres humanos.
É por isso que se diz que, até haver uma vacina, pode demorar, pelo menos, um ano.
Mas há muitas em desenvolvimento…
Sim, uma das mais avançadas é a da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Os investigadores garantem que os primeiros testes em voluntários estão a correr bem e o Governo britânico já disse que, se a vacina resultar, poderá ter disponíveis 30 milhões de doses já em setembro.
Há também progressos encorajadores nos Estados Unidos. Na segunda-feira (dia 18 de maio), a empresa Moderna, sediada no Massachusetts, anunciou que um grupo de oito pessoas vacinadas em março desenvolveu anticorpos capazes de impedir a Covid-19.
Neste caso, acredita-se que a vacina possa ser produzida antes do final do ano ou no início do próximo.
No total, segundo a OMS, há já oito empresas candidatas a vacinas que estão a desenvolver ensaios em humanos e outras 110 em avaliação pré-clínica.
O mais provável, portanto, é que apareça uma vacina – ou até várias. A questão é quando.