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Moçambique

Casas queimadas, centenas de mortos e deslocados. Bispo relata terror no norte de Moçambique

13 jun, 2020 - 18:50 • Redação com Lusa

D. Luiz Fernando Lisboa revela que os ataques terroristas em Cabo Delgado têm crescido em cadência e gravidade.

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O cenário em Cabo Delgado, província de Moçambique, é de terror e cada vez mais grave, conforme relata o bispo de Pemba, D. Luíz Fernando Lisboa, em entrevista ao portal "Plataforma".

Grupos armados, de cara tapada, já terão matado mais de 1.100 pessoas, em cerca de dois anos e meio, e há mais de 200 mil deslocados a precisar de ajuda humanitária. Mais recentemente, tem havido “vários ataques em simultâneo”, em aldeias distantes umas das outras, “o que dificulta ainda mais” a ação das forças de segurança.

O método é sempre o mesmo, "desde o começo": "Queimar as casas, matar pessoas e decepar as cabeças." O bispo de Pemba assume que aquilo por que a população de Cabo Delgado tem passado "é uma coisa inominável".

"Está toda a população assustada e com medo. Os deslocados, os diretamente envolvidos, estão numa situação de pesadelo. Muitos fugiram, aqueles que permaneceram nas suas aldeias dormem no mato porque têm medo de ser atacados, e os que estão noutros distritos estão a receber deslocados. As famílias vivem em sobressalto, porque quem tinha seis ou sete pessoas na família agora tem 20, 25, porque acolheu outras famílias", conta.

D. Luíz Fernando admite que, por trás dos ataques, pode estar a conjugação de interesses económicos, étnicos e religiosos. Contudo, prefere não alimentar o conflito religioso: "Nem falamos nesse assunto, isso não nos interessa."

Guterres atento à violência em Moçambique


Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.

O bispo de Pemba não esconde o medo com que vive todos os dias. As autoridades de vários distritos e as Organizações Não Governamentais já abandonaram Cabo Delgado. Assim como os missionários, por ordem do próprio bispo. A população abandonou a região e "só ficou quem não pôde sair".

Em abril, D. Luíz Fernando declarou, em entrevista à Renascença, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tinha "obrigação de ajudar" Cabo Delgado.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, já contactou o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, sobre a violência armada em Cabo Delgado. Os dois mantiveram uma "breve conversa telefónica" sobre o assunto, de acordo com nota oficial da Presidência da República de Moçambique.

Guterres e Nyusi terão discutiram as medidas que o Governo moçambicano tem adotado na assistência às populações afetadas, assim como o "papel importante" das agências da ONU, nomeadamente o Programa Alimentar Mundial.

Além da violência armada em Cabo Delgado, António Guterres e Filipe Nyusi abordaram o acordo de paz entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), um processo que registou progressos nos últimos dias, com a entrega de armas de um total de 38 guerrilheiros do braço armado do principal partido de oposição no âmbito dos entendimentos assinados em agosto de 2019.

"Os dois dirigentes reafirmaram o seu empenho em aprofundar a cooperação multilateral no enfrentamento dos desafios globais, com impacto em Moçambique e no mundo", concluiu a nota.

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