19 jun, 2020 - 18:26 • Ana Carrilho
O secretário-gral da ONU, António Guterres, considera que a crise no mundo trabalho provocada pela Covid-19 põe "mais combustível na fogueira" do descontentamento e da ansiedade no mundo do trabalho e defende, por isso, um esforço coordenado para criar trabalho digno para todos.
Nos últimos meses, devido à pandemia, centenas de milhões de empregos foram eliminados. A perda das horas de trabalho equivale a 305 milhões de postos de trabalho e há 1.250 milhões de trabalhadores que têm emprego nos setores mais afetados.
O relatório das Nações Unidas, realizado com o contributo de diversas organizações da ONU lideradas pela OIT – Organização Internacional do Trabalho – e hoje divulgado, estima que as pessoas que trabalham na economia informal (a maior parte da força de trabalho a nível mundial) tenham perdido, em média, 60% do rendimento, só no primeiro mês da crise.
O prognóstico da ONU para os próximos tempos é preocupante: muitas das pessoas que perderam o emprego nos últimos meses não terão condições para voltar ao mercado de trabalho a curto prazo. E isso é particularmente grave para as mulheres - que estiveram “entre os primeiros a ser dispensados e que estarão entre os últimos a regressar”- devido à discriminação de género, condições de trabalho precárias, baixos salários, trabalho em setores mais atingidos pela pandemia ou por terem de cuidar dos filhos que, nesta fase, deixaram de ir à escola. Jovens, pessoas com deficiência ou em risco de exclusão também vão ter mais dificuldade em conseguir trabalho durante a retoma da economia.
Para as Nações Unidas, os efeitos da COVID-19 a longo prazo também são preocupantes já que põe em risco os esforços para reduzir a pobreza e desigualdades. Aliás, o Secretário Geral António Guterres refere que “põem mais combustível na fogueira do descontentamento e da ansiedade que já arde no mundo do trabalho”. Ao mesmo tempo, a crise pandémica mostra como a economia e o mercado de trabalho dependem um do outro. Esta interdependência deve ser redefinida de forma a gerar um mundo mais sustentável e inclusivo para todos.
A pandemia acelerou algumas tendências, nomeadamente a digitalização e o teletrabalho, que podem promover uma grande flexibilidade e sustentabilidade no futuro do mundo do trabalho. Mas por outro, as Nações Unidas temem que o desemprego massivo e da perda de rendimentos aprofundem a perda de coesão social e desestabilizem países e regiões, a nível social, político e económico.
Para enfrentar estes problemas, António reafirma as recomendações já anteriormente referidas pela OIT. Em primeiro lugar, apoiar os trabalhadores, as empresas, o emprego e rendimentos em risco, para evitar falências, perdas de postos de trabalho e rendimentos. Em segundo lugar, com o alívio das restrições, é preciso promover o regresso à atividade económica e ao trabalho com segurança e garantia dos direitos dos trabalhadores.
Finalmente, o secretário geral das Nações Unidas frisa a necessidade de mobilizar a comunidade internacional para uma recuperação inclusiva, verde, sustentável e centrada no ser humano, que aproveite o potencial das novas tecnologias.
Para António Guterres, “está na hora de fazer um esforço coordenado global, regional e nacional para criar trabalho digno para todas a as pessoas”.