23 jun, 2020 - 22:01 • Lusa
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, “exorta Israel a renunciar os planos de anexação” na Cisjordânia, o que constituiria “uma violação muito grave do direito internacional”, em novo relatório ao Conselho de Segurança divulgado esta terça-feira.
Enquanto uma reunião bianual do Conselho sobre o conflito israelo-palestiniano está marcada para quarta-feira com a participação de vários ministros a pedido da Liga Árabe, o documento sublinha que uma anexação seria “devastadora para a solução de dois Estados”.
“[A anexação] ameaçaria os esforços a favor da paz na região”, insistiu Guterres, lembrando a oposição, inclusive, dentro da sociedade israelita contra o projeto.
“A anexação unilateral de Israel a qualquer parte da Cisjordânia ocupada fecharia efetivamente a porta a um reatamento das negociações e destruiria as perspetivas de um Estado palestiniano viável e a solução de dois Estados. Seria catastrófico para os palestinianos, os israelitas e a região”, escreveu.
O Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, deve anunciar, a partir de 1 de julho, a estratégia para implementar o plano norte-americano que prevê a anexação por parte de Israel de colónias judaicas e do Vale do Jordão, uma vasta planície agrícola na Cisjordânia, e a criação de um Estado palestiniano num território reduzido.
Esse plano foi rejeitado pelos palestinianos.
A videoconferência do Conselho de Segurança da ONU é a última reunião internacional a ser realizada antes do anúncio da estratégia israelita.
“Qualquer decisão sobre soberania cabe, exclusivamente, ao governo de Israel”, afirmou o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, em comunicado divulgado hoje.
Segundo os diplomatas, uma grande maioria dos Estados-membros deve opor-se novamente ao projeto israelita na quarta-feira.
“Precisamos de enviar uma mensagem clara e não podemos simplesmente condenar” a política israelita, disse um embaixador sob condição de anonimato, evocando uma ação ao Tribunal Internacional de Justiça.
Quando os Estados Unidos (EUA) reconheceram Jerusalém como a capital de Israel, uma resolução condenando essa decisão foi aprovada no Conselho de Segurança por 14 dos 15 membros, no final de 2017, mas os EUA utilizaram o seu veto.
Uma resolução semelhante então apresentada à Assembleia Geral da ONU, onde o veto não existe, obteve 128 votos a favor e 35 abstenções.
Questionados sobre a possibilidade de sanções contra Israel, como as que foram impostas por certos países ou grupos de países contra a Rússia após a anexação da Crimeia, os diplomatas pareceram descartá-la.
“Qualquer anexação teria consequências enormes para a solução de dois Estados no processo de paz”, afirmou outro embaixador sob condição de anonimato.
“[Mas] é difícil comparar com a Crimeia, onde houve uma invasão por um vizinho, enquanto no Médio Oriente é uma situação política complicada” há décadas, concluiu.