03 jul, 2020 - 21:19 • António Fernandes, correspondente em Londres
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Os rumores que duravam já há uma semana foram confirmados esta sexta-feira, depois de o Governo britânico ter excluído Portugal da lista de países que podem ser visitados sem que seja necessário fazer uma quarentena obrigatória no regresso ao Reino Unido. Para além do grande impacto que esta decisão terá no setor do turismo em Portugal, tem ainda um outro lado: torna mais difícil que os emigrantes portugueses no Reino Unido tenham condições de regressar a casa este verão.
Marta Gonçalves do Couto, que vive no Reino Unido há quatro anos, já tinha contado à Renascença como era difícil viver na incerteza de saber se o regresso a casa seria adiado. Marta tem viagem marcada para 4 de agosto, uma viagem que não será possível se a quarentena ainda for obrigatória, porque, apesar de Marta poder trabalhar a partir de casa, “para o meu marido é impossível regressar ao Reino Unido e depois estar mais duas semanas em casa”.
A exclusão de Portugal, ainda que esperada, nem por isso foi melhor recebida e deixou Marta “destroçada, nem queria acreditar quando li. Não consigo compreender como colocam português no mesmo ‘saco' que os EUA”, outro país excluído da lista de corredores aéreos anunciados hoje e fortemente afectado pela pandemia.
Edgar Moreira vive há três anos no Reino Unido e tem duas semanas de férias marcadas para o final de julho. Edgar diz que há dois meses esta notícia seria uma surpresa, mas depois do aumento de casos em Lisboa nas últimas semanas “comecei a recear o pior, pensei mesmo que não teríamos hipóteses de ir a Portugal neste verão.”
Apesar de saber que a decisão ainda pode ser revista até viajar, Edgar vai cancelar o hotel que tinha marcado no Algarve. Os voos serão adiados para o final de Agosto, para visitar a família “caso a situação mude”. Caso isso não seja possível, os voos - e o regresso a Portugal - serão adiados para o final do ano ou mesmo para 2021. Enquanto a quarentena for obrigatória no regresso ao Reino Unido uma ida a Portugal fica “fora de questão a nível profissional” e diz mesmo que foi “alertado pelo meu patrão que não havia possibilidade de ficar em casa duas semanas”.
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Outra portuguesa que vive no Reino Unido há sete anos e que pediu para não ser identificada diz que a decisão acaba por ser “o que imaginava que ia acontecer, porque apesar de os números absolutos de Portugal serem baixos no grande esquema das coisas” sabia que o recente surto na Grande Lisboa podia levar a este desfecho. Ainda assim entende que a situação é “mutável” e acredita que Portugal possa vir a ser incluído num futuro próximo.
A viagem a Portugal, planeada para o início de agosto, irá acontecer por linhas tortas. Depois de ver um artigo na BBC que expunha como o sistema de corredores aéreos era difícil de controlar por ser possível, por exemplo, passar de um país da União Europeia para outro sem registo, decidiu comprar viagem de ida e volta por Madrid, fazendo a ligação a Lisboa por comboio. Apesar de reconhecer que não é a opção mais ética garante que será “conscienciosa e, se tiver sintomas, isolo-me, para não ser um veiculo de transmissão”.
Ainda assim, do ponto de vista moral, coloca a questão em perspetiva por haver mais casos tanto em Espanha como no Reino Unido. Esta opção é recusada pelo Governo britânico, que diz que nesse caso seria preciso fazer quarentena à chegada. Na prática, é impossível controlar e mostra como é também difícil estabelecer esta política. Apesar disso, esta portuguesa diz que prefere “arriscar e ir visitar a família”, que já não vê desde dezembro de 2019.
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Caso lhe perguntem onde esteve diz que não vai mentir e, se for necessário, fará quarentena, ainda que essa opção leve a que perca o vencimento durante as duas semanas. Outros portugueses que responderam à Renascença planeiam também fazer um caminho alternativo para Portugal, muitos por via terrestre atravessando França e Espanha, que estão incluídos na lista de países que podem ser visitados sem ser preciso cumprir quarentena de 14 dias no regresso.
A decisão poderá ser revista daqui a três semanas e Marta diz que tem, por isso, “uma réstia de esperança... Falta exactamente um mês para a nossa viagem.” Uma viagem onde deveria partilhar com a família um momento especial, uma vez que está grávida. Menos esperançoso está Edgar, que descreveu o anúncio desta sexta-feira como um “balde de água fria” e, apesar de estar a procura alternativas, está “99% certo de que este ano não há férias em Portugal no verão”.
Uma situação que se estende a muitos dos 400 mil portugueses que vivem no Reino Unido e que têm agora uma decisão difícil para fazer - visitar Portugal e a família ou abdicar de duas semanas de salário no regresso.