22 jul, 2020 - 20:11
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O antigo economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) Paulo Leme considerou esta quarta-feira que o Brasil tem dado uma resposta satisfatória à crise económica provocada pela pandemia de covid-19, mas criticou a liderança do país.
“Acredito que a resposta do Banco Central [do Brasil] tem sido grande, atempada e adequada, e que os bancos estão a conceder créditos” não apenas a grandes empresas, mas também a pequenas e médias empresas, disse Paulo Leme numa conferência do "think tank" (grupo de reflexão) Center for Global Development (CGD) sobre propostas para a América Latina no contexto da pandemia.
“É claro que cada país podia ter feito mais perante aquilo que estamos a passar, mas se tivesse de pedir uma grande mudança, seria na liderança e gestão”, acrescentou o antigo CEO do banco Goldman Sachs do Brasil, que criticou a cooperação entre vários níveis da governação brasileira.
“Não temos tido boa gestão em termos de saúde pública, liderança ou coordenação entre os vários níveis de governação”, disse o professor de Finanças brasileiro.
Paulo Leme indicou que as provisões de liquidez no país são equivalentes a cerca de 17% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e a expansão de crédito já se situa em 20% do PIB.
Dados os constrangimentos da recessão económica, o economista considerou que o Brasil tem agido de acordo com recomendações de instituições financeiras, em termos de subsídios sociais, apoio ao salário ou compensação de horas de trabalho.
“No Brasil estão a trabalhar na reforma do sistema de impostos, mas a ideia é olhar para trás e assegurar que as despesas que foram aumentadas nos últimos tempos não são permanentes”, explicou.
Paulo Leme trabalhou 25 anos no banco Goldman Sachs e foi economista do FMI durante nove anos. Atualmente é professor de Finanças na Universidade de Miami, nos Estados Unidos, e assumiu recentemente a liderança do comité global de alocação da consultora XP Private.
O CGD publicou hoje uma série de recomendações para a América Latina, a região que terá um maior declínio da economia segundo previsões do FMI, em mais de 9%.
Entre as recomendações do grupo de reflexão lê-se que a região inteira teria de empenhar 10% do PIB total para dar resposta à crise no setor público.
A comissão do CGD responsável pela elaboração do documento recomenda certa austeridade em relação a “despesas não essenciais” e lembra que “existe espaço para políticas mais ativas dos bancos centrais”.
Ainda assim, a resposta doméstica não vai ser suficiente para a região, consideram os especialistas, calculando que o FMI deve disponibilizar financiamento entre 200 e 300 mil milhões de dólares (entre 172 e 260 mil milhões de euros) à América Latina, caso tenha recursos suficientes.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 617.500 mortos e infetou mais de 15 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
O Brasil é o segundo país com mais casos do mundo (81.487 mortos, mais de 2,1 milhões de infetados).
As medidas para combater a pandemia paralisaram setores inteiros da economia mundial e levaram o Fundo Monetário Internacional a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 4,9% em 2020, arrastada por uma contração de 8% nos Estados Unidos, de 10,2% na zona euro e de 5,8% no Japão.