31 jul, 2020 - 11:06 • Marta Grosso
Na Austrália, há uma vacina contra o novo coronavírus que revelou ser segura e gerar uma resposta imune em organismos humanos, em ensaios realizados na fase 1 de testes.
A Covax-19 está a ser desenvolvida por cientistas de Adelaide, numa colaboração entre a Universidade de Flinders e a empresa de biotecnologia Vaxine.
"Confirmamos que a vacina Covax-19 pode induzir respostas apropriadas de anticorpos em seres humanos", afirmou Nikolai Petrovsky, investigador naquela universidade e fundador da Vaxine, ao jornal “Sunrise”.
“Agora temos dados preliminares de segurança que mostram que não houve efeitos colaterais sistémicos significativos em qualquer dos voluntários” e “temos permissão para imunizar indivíduos que já tiveram o Covid-19 para ver se podemos aumentar ainda mais sua imunidade e impedir que sejam infetados novamente", adiantou.
O objetivo de Petrovsky é agora testar a vacina em idosos, num outro ensaio clínico. Para isso, ofereceu vacinas ao estado de Vitória (Victoria) e incentivou os familiares dos utentes dos lares e casas de repouso a inscrevê-los nos testes.
“Não há razão para que não os possam matricular e dar-lhes a vacina que, esperançosamente, as protegeria”, afirmou.
"Certamente, estamos muito abertos a conversar com o governo vitoriano sobre isso”, acrescentou, considerando que “traria benefícios, apenas num contexto de ensaio clínico”.
“Sabemos que não vai doer, porque agora sabemos que a vacina é completamente segura”, reforçou.
O estado de vitória tem sido um dos mais afetados pela pandemia causada pelo novo coronavírus e as autoridades estimam que sejam
As autoridades estimam que nos próximos dias possam surgir 600 novos casos.
Na primeira fase de testes em humanos, participaram 40 voluntários, que receberam uma dosagem de Covax-19. Não foram relatados efeitos colaterais significativos nem situações de febre – o que, de acordo com o jornal “The Australian”, contrasta com os resultados da fase 1 das duas outras vacinas que já avançaram para os testes da fase 3: a da Universidade de Oxford e a da empresa norte-americana de biotecnologia Moderna.
Para a fase 2 dos testes, que vai decorrer em setembro, os cientistas australianos estimam envolver entre 400 e 500 voluntários e, para a fase 3, o objetivo é chegar aos cinco mil.
Para tal, a Vaxine está em conversações com outros países, sobretudo os mais afetados pela pandemia de Covid-19.
Nesta altura, há mais de 150 vacinas em desenvolvimento em todo o mundo, uma delas também na Austrália (Queensland), tendo 21 delas já submetidas a testes em humanos.
Se os testes continuarem a ter bons resultados, Nikolai Petrovsky acredita que a Covax-19 possa ser disponibilizada dentro de “três ou quatro meses”.
Além das vacinas da Moderna e da Pfizer com a alem(...)
Ambas as vacinas que estão a ser desenvolvidas na Austrália funcionam através de subunidades de proteínas, sendo injetados no corpo pequenos pedaços sintetizados da proteína de pico da SARS-CoV-2 para induzir uma resposta imune.
Esses picos de proteína circundam a superfície do vírus, formando parte da coroa que dá nome ao vírus.
Na infeção pelo novo coronavírus, os picos de SARS-CoV-2 (chamados proteínas S1) ligam-se a uma molécula chamada ACE2, recetora nas células do corpo, permitindo que o vírus a invada e se replique extensivamente. É esta imensa capacidade de ligação do SARS-CoV-2 à ACE2 que o torna altamente infeccioso.
Assim, para produzir a Covax-19, os investigadores inseriram numa célula uma sequência genética da proteína distinta do pico do novo coronavírus. A célula começa, então, a fazer crescer esta proteína e os cientistas vão purificá-la, transformando-a numa vacina.