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Relato à Renascença

"Estamos agora a acordar para a realidade pós-explosão", conta português em Beirute

05 ago, 2020 - 11:58 • Marta Grosso , Pedro Filipe Silva (entrevista)

João Sousa estava na varanda da sua casa na capital libanesa quando ouviu o estrondo. A devastação nas ruas de Beirute é enorme e o número de vítimas ainda vai aumentar, diz à Renascença o fotojornalista português, que vive a um quilómetro do porto onde ocorreram as explosões.

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João Sousa escapou ileso às duas fortes explosões que, na terça-feira ao final do dia, abalaram a capital libanesa, outrora conhecida como a Paris do Médio Oriente. Provocaram, pelo menos 100 mortos e cerca de 4 mil feridos.

“A informação oficial é que isto foi um acidente”, mas “o que se ouve nas ruas é que isto foi um ataque, não há é provas para já”, relata à Renascença.

“A população não tem confiança nenhuma no Governo ou na classe política” e “há uma questão histórica neste país em relação a Israel”, que leva a crer que “qualquer ataque que seja feito aqui normalmente é proveniente de Israel.”

Nos últimos meses, adianta João Sousa, "as pessoas têm ouvido falar bastante na possibilidade de um ataque”. No rescaldo das explosões de ontem, Israel disse publicamente que não está por trás do que aconteceu.

Calcula-se, neste momento, que a magnitude da explosão se deveu ao facto de estarem armazenadas no porto de Beirute várias toneladas de nitrato de amónio, um componente de material explosivo. E os efeitos estão à vista: “Praticamente tudo ficou danificado”, conta o português.

João Sousa sabe-o, porque foi fotografar as ruas. Depois de uma noite com “banda sonora de sirenes” e sem conseguir dormir por causa da adrenalina, decidiu “sair outra vez, às 4h/5h da manhã, para fotografar” uma cidade devastada.

“Vamos assumir que todo o comércio e toda a hotelaria no centro de Beirute foram severamente afetados”, além de “propriedade privada, portanto, residências, apartamentos, casas” e ainda viaturas, relata.

Quanto ao número de vítimas, vão certamente aumentar.

“À medida que as equipas de busca vão resgatando pessoas e tirando corpos dos escombros, penso que vamos ter um aumento. Não sei a que números vamos chegar, mas hoje as pessoas vão ter uma ideia real da escala desta crise”.

Esta quarta-feira, a União Europeia e vários outros países, da Rússia aos Estados do Golfo, anunciaram o envio de pessoal e equipamento para apoiar nas missões de resgate e salvamento.

Acordar para a tragédia

É agora, à luz do dia, que as pessoas que vivem e trabalham em Beirute se estão a aperceber da verdadeira dimensão do que aconteceu.

“As pessoas estão a acordar para a realidade pós-explosão, porque a maior parte da ação, ontem, foi passada à noite”, conta João Sousa. Agora, vive-se “um ambiente de ressaca, depois de um choque absolutamente brutal”.

Na terça-feira, “nós tivemos alguma ideia visual do que tinha acontecido a Beirute, mas hoje, de facto, temos a luz do dia para ver a extensão efetiva dos danos”, reforça o fotojornalista português.

João Sousa estava em casa, sentado na varanda onde costuma relaxar, quando tudo aconteceu. O fotojornalista vive a um quilómetro do porto onde ocorreram as explosões.

“Ouvi um estoiro à distância e pensei que não era um som normal. Um dos meus companheiros de casa saiu do quarto dele e perguntou 'tu ouviste isto também?'. Lembrei-me: se calhar estamos a ser atacados. E foi nessa altura, 30 segundos depois de termos ouvido a primeira explosão, que veio a segunda. E aí sim, tremeu tudo, vidros partidos, janelas partidas, portas partidas, tudo arremessado de um lado para o outro, pessoas em estado de choque, sangue, feridas por todo o lado, pessoas a correr”, descreve.

A explosão em Beirute é já considerada uma das maiores da história, logo a seguir às nucleares em Hiroshima e Nagasaki.

Os estragos provocados pela explosão. “É como se um enorme terramoto tivesse atingido Beirute. Estou sem palavras”
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