05 ago, 2020 - 00:19 • Filipe d'Avillez com Redação
A capital do Líbano foi atingida por uma violenta explosão, na terça-feira, que destruiu a zona portuária e fez milhares de feridos e mais de uma centena de vítimas mortais, segundo os últimos números oficiais.
Tratando-se do Líbano, as primeiras reações foram suspeitar de um atentado, ou de um ataque israelita, mas parece não ser o caso.
A explosão terá sido causada por um incêndio que deflagrou no Porto de Beirute, numa zona onde estava armazenado material explosivo. As chamas, que terão começado num contentor carregado de pirotecnia, terão feito deflagrar um depósito com cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio.
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João Sousa, um fotojornalista português residente (...)
Israel reagiu de imediato para deixar claro que nada tinha a ver com o sucedido e o primeiro-ministro do Líbano já disse que quem tiver sido culpado por armazenar material explosivo numa zona civil e densamente povoada, será devidamente responsabilizado. Os respetivos responsáveis da zona de armazenamento da zona portuária estão agora em prisão domiciliária, mas há indicações de que o Governo já tinha sido avisado para o perigo do armazenamento de material explosivo naquela zona há pelo menos seis anos.
Com base nos cadastros dos navios e nos calendários portuários, a Associated Press especulou que o navio que transportava nitrato de amónio tinha como destino Moçambique. Terá atracado no porto da capital do Líbano, Beirute, devido a problemas mecânicos, em 2013.
Um artigo escrito em outubro 2015 na publicação especializada em navegação shiparrested.com também indicava que o navio tinha como destino o porto da Beira, mas terá atracado no porto de Beirute devido a problemas mecânicos, tendo a carga sido confiscada e armazenada por vários anos na capital libanesa.
A Cornelder, empresa gestora do porto da Beira, disse à Lusa que nunca foi notificada sobre a operação de um navio com 2.750 toneladas de nitrato de amónio com destino a Moçambique.
A Lusa contactou o também o Ministério dos Transportes e Comunicações, que disse igualmente não ter sido informado sobre um navio com estas características naquele ano.
Os dados oficiais apontam para 137 vítimas mortais, cerca de cinco mil feridos e pelo menos 100 pessoas continuam desaparecidas. Cerca de 300 mil pessoas ficaram sem casa. Os hospitais ficaram rapidamente sobrelotados e o Governo pediu assistência internacional, tendo declarado um período de 15 dias de estado de emergência. Quarta-feira foram declarados três dias oficiais de luto.
O ministro adiantou que os trabalhos continuam a decorrer na tentativa de encontrar sobreviventes entre os escombros, acrescentando que estão a ser feitos contactos com países árabes e europeus para garantir a chegada de assistência médica ao país.
As autoridades libanesas estão já a determinar as necessidades imediatas e a instalar hospitais de campanha.
Líbano
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Toda a zona do porto foi arrasada, mas há registo de danos causados em casas que ficavam a vários quilómetros de distância.
Para além dos danos materiais e pessoais, houve ainda toneladas de comida armazenada também no porto, nomeadamente cereais, que ficaram inutilizados por causa da violência da explosão e da nuvem de fumo.
O rebentamento foi ouvido no Chipre, a 180 quilómetros de distância e as imagens de satélite permitem ver perfeitamente a dimensão dos estragos.
O Governo português tem registo de um ferido ligeiro entre a comunidade portuguesa, mas nenhum ferido grave.
Segundo a associação Amigos de Portugal-Líbano, a comunidade luso-libanesa, que na sua maioria concentra-se no bairro de Acharfieh sofreu sobretudo de destruição de casas ou apartamentos, havendo a registar alguns feridos devido à explosão de vidros e janelas e outros objetos.
Os números das vítimas não param de crescer: pelo (...)
Vários países apressaram-se em oferecer ajuda ao Líbano, para fazer face ao que o governador de Beirute descreveu como uma “catástrofe nacional”, incluindo o Governo português que está disponível para enviar equipas do INEM e a Proteção Civil diz que tem quatro equipas prontas a enviar a qualquer momento.
A UE já lamentou as vítimas e diz-se pronta para ajudar. "O nosso centro de coordenação de resposta de emergência está em contacto com as autoridades de proteção civil no Líbano", acrescentou o comissário Europeu Para a Gestão de Crises, Janez Lenarcic.
O governo francês vai enviar para o Líbano dois aviões de transporte militar com 55 pessoas da proteção civil e 15 toneladas de material, assim como uma unidade sanitária que pode prestar cuidados a 500 feridos. Paris vai enviar também mais uma dezena de médicos e enfermeiros especializados em situações de emergência para reforçarem os hospitais e as equipas locais.
O emir do Qatar, Tamim Bin Hamada al-Zani, disse ter conversado ao telefone com o Presidente libanês, Michel Aoun, para lhe transmitir os pêsames e também a oferecer-se para enviar “todo o tipo de ajuda”, segundo indicou a agência de notícias oficial QNA.
Israel já veio negar qualquer envolvimento na explosão, estando disponível para enviar ajuda médica e assistência imediata.
Até agora, mais de dez países já se disponibilizaram para auxiliar, entre eles, Irão, EUA e o vizinho Chipre.
O Banco Mundial também já está pronto a mobilizar fundos para ajudar o país a recuperar.
O Líbano é um país especial. Estando situado no Médio Oriente, tem uma mistura religiosa e étnica maior do que é normal para a região. Cristãos de várias denominações e muçulmanos xiitas e sunitas vivem num equilíbrio muito delicado. Ao longo dos últimos anos um partido tem ganho ascendência sobre os demais. Para além de ser uma força política, o Hezbollah é uma potente força militar, que rivaliza com o próprio exército libanês. O Hezbollah, que é aliado do Irão, mantém o Líbano num estado de conflito permanente com Israel.
Para além da divisão social e política crónica, o país atravessa uma terrível crise financeira, estando por isso na pior situação possível para enfrentar mais este desastre.
O Líbano, que se encontra mergulhado numa profunda crise económica, com uma dívida pública de 90.000 milhões de dólares (cerca de 76.000 milhões de euros), 170% do seu Produto Interno Bruto, viu ainda recentemente a libra libanesa perder em torno de 80% o seu valor face ao dólar norte-americano.
[Atualizado às 00h05 de dia 6 de agosto]
Veja os primeiros vídeos da explosão partilhados nas redes sociais: