10 ago, 2020 - 12:15 • Olímpia Mairos
Um grupo de cientistas da Universidade de Southampton (Reino Unido) analisou as possibilidades de contrair Covid-19 em uma carruagem de comboio que transporta uma pessoa infetada.
Os investigadores basearam-se nas rotas de alta velocidade da China e chegaram à conclusão que para os passageiros de um comboio sentados em três filas e em cinco colunas com uma pessoa infetada, entre zero e dez por cento (10,3) contraíram a doença. A taxa média de transmissão destes viajantes foi inferior a 0,32 por cento.
O estudo, avançado pelo jornal espanhol ABC, mostrou que os passageiros que viajavam em lugares adjacentes a um infetado sofriam do nível mais elevado de transmissão, com uma média de 3,5 por cento de contração da doença. Para aqueles que estavam sentados na mesma fila, o valor era de 1,5 por cento.
A "taxa de ataque" de cada assento (o número de passageiros num dado lugar diagnosticado com Covid-19, dividido pelo número total de passageiros que viajam no mesmo lugar) aumentou 0,15% por cada hora que uma pessoa viajou com um Covid-19 positivo. Para as pessoas em lugares contíguos, a taxa de aumento foi maior, de 1,3 por cento por hora.
O estudo indica ainda que apenas 0,075 por cento das pessoas que usavam um assento anteriormente ocupado por uma pessoa infetada contraíram a doença.
De acordo com o autor principal do estudo, Shengjie Lai, “embora exista um risco acrescido de transmissão Covid-19 nos comboios, a localização do assento de uma pessoa e o tempo de viagem em relação a uma pessoa infetada pode fazer uma grande diferença na transmissão”.
Daí que os resultados apontem que, durante a pandemia, é importante “reduzir a densidade de passageiros e promover medidas de higiene pessoal, o uso de revestimentos faciais e verificação de temperatura antes do embarque”.
Os investigadores concluem que, dadas as estimativas de "taxas de ataque" para os passageiros na mesma linha que um infetado, é necessária uma distância social segura de mais de um metro para uma hora de viagem. Já após duas horas de contacto, consideram que uma distância inferior a 2,5 metros pode ser insuficiente para evitar a transmissão.
Outro dos autores do estudo, Andy Tatem, citado pelo jornal espanhol ABC, assinala que a investigação é a primeira a quantificar o risco individual de transmissão Covid-19 nos transportes públicos com base em dados de investigações epidemiológicas de casos de doenças e seus contactos próximos em comboios de alta velocidade.
O estudo “mostra que o risco de transmissão não está apenas relacionado com a distância de uma pessoa infetada, mas também com o tempo na sua presença”, assinala Andy Tatem, considerando, por isso, que as conclusões do estudo podem “ajudar a informar as autoridades de todo o mundo sobre as medidas necessárias para se protegerem do vírus e, por sua vez, ajudar a reduzir a sua propagação”.
O estudo da Universidade de Southampton (Reino Unido) contou com a colaboração da Academia Chinesa das Ciências, da Academia Chinesa de Eletrónica e Tecnologia da Informação e do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças.
A equipa de investigação usou um modelo sofisticado para analisar dados anónimos de itinerários e infeções relacionadas com passageiros em comboios na rede de alta velocidade da China. O modelo incluiu aqueles com Covid-19 no momento da viagem e seus contactos próximos (que apresentaram sintomas 14 dias após a viagem).
Os dados, relativos ao período de 19 de dezembro de 2019 a 6 de março de 2020, incluíram 2.334 doentes com índice e 72.093 contactos próximos. A duração da viagem variou de menos de uma hora a oito horas.