11 ago, 2020 - 11:06 • Carla Fino com redação
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A primeira vacina contra a Covid-19 registada foi anunciada pelo Presidente russo, devendo entrar em circulação a 1 de janeiro de 2021.
A vacina russa chama-se "Sputnik V” (em referência ao primeiro aparelho espacial a ser lançado para a órbita da Terra) e, segundo Kirill Dmitriev, presidente do conselho de administração do Russian Direct Investment – o fundo soberano russo envolvido na investigação científica e no financiamento das pesquisas –, "20 países já pré-encomendaram um milhão de doses da vacina".
Ouvida pela Renascença, Etelvina Calé, uma médica de saúde pública e especialista em vacinação da Direção-Geral de Saúde (DGS), vê com ceticismo o anúncio de Vladimir Putin.
A data para a distribuição da vacina foi indicada pela entidade oficial da Rússia que regista medicamentos e pertence ao Ministério da Saúde. Nas últimas semanas, a Rússia “garantiu” a produção de milhares de doses de vacinas contra o novo coronavírus e “vários milhões” no princípio do próximo ano.
A especialista portuguesa lembra que no caso europeu é muito difícil registar uma vacina sem completar todas as fases. “A Europa é muito exigente em termos de utilização humana de medicamentos e estes têm que ser licenciados pela EMA (Europeean Medicines Agency) ou pelos congéneres europeus. Se for licenciado pela EMA, todos os países já têm licença para utilização.”
Etelvina Calé admite que, perante uma vacina que tenha cumprido todos os passos, haja um processo de agilização da autorização da utilização humana. “Mas não vamos saltar passos de certeza e não vamos saltar etapas. Podermos agilizar e ser mais rápidos, mas saltar etapas não creio que seja possível”, sublinha.
Por isso, considera prematuro o arranque da vacinação nalguns sectores da sociedade russa já em outubro. “É impensável para a aplicação de uma vacina em larga escala na Europa. O que pretendemos de uma vacina, é que seja eficaz e segura, mas, para isso, temos de passar por algumas etapas de ensaios.”
De acordo com o chefe de Estado, a vacina russa é "eficaz" e superou todas as provas necessárias assim como permite uma "imunidade estável" face ao covid-19. Putin acrescentou que uma das suas duas filhas já recebeu uma dose da vacina e está a sentir-se bem. "Ela participou na experiência", disse Putin, afirmando que a filha teve um pouco de febre "e foi tudo".
O Ministério da Saúde russo afirmou que uma dupla inoculação "permite uma imunidade longa", que poderá durar "dois anos". No entanto, muitos cientistas no país e no estrangeiro questionaram a decisão de registar a vacina antes de os cientistas completarem a chamada Fase 3 do estudo. Essa fase por norma demora vários meses e envolve milhares de pessoas e é a única forma de se provar que a vacina experimental é segura e funciona.
Mais de cem vacinas estão a ser desenvolvidas a nível mundial e, pelo menos, quatro estão na fase III de testes em humanos, segundo a OMS.
A pandemia já provocou mais de 733 mil mortos e infetou mais de 20 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o último balanço feito pela agência francesa AFP.