18 ago, 2020 - 15:41 • Lusa
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, advertiu esta terça-feira o homólogo francês, Emmanuel Macron, para o facto de ser "inadmissível" a interferência nos assuntos internos da Bielorrússia e, paralelamente, pressionar as autoridades de Minsk.
"Ao abordar a grave situação na Bielorrússia, Vladimir Putin considerou inadmissível a intervenção nos assuntos internos desta república e as pressões contra os dirigentes bielorrussos", indicou o Kremlin, em comunicado.
Segundo a Presidência russa, na conversa ao telefone, realizada por iniciativa de Paris, Putin e Macron expressaram o interesse comum de ver "rapidamente uma solução para os problemas" da Bielorrússia.
No comunicado é assinalado também que os dois presidentes trocaram pontos de vista sobre a situação de guerra na Líbia, mas nada é adiantado em concreto.
Ainda hoje, Putin também manteve uma conversa telefónica com a chanceler alemã, Angela Merkel, sobre a situação na Bielorrússia após as eleições presidenciais de 9 deste mês e a necessidade de se iniciar rapidamente um diálogo nacional no país.
Na conversa, o Presidente russo pediu a Merkel para que se evite qualquer ingerência nos assuntos internos bielorrussos, enquanto a chanceler alemã exigiu o fim da repressão policial contra os manifestantes que, desde o dia das eleições, têm protestado contra os resultados que deram vitória ao chefe de Estado cessante da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, com pouco mais de 80%.
Sábado, Putin manifestou a Lukashenko o apoio de Moscovo para garantir a segurança no país e denunciou as tentativas de ingerência estrangeira.
No comunicado então divulgado pelo Kremlin foi citado também o tratado da União Estatal entre Moscovo e Minsk, cujo artigo 2.º estipula que um dos objetivos do pacto é "garantir a segurança nacional".
Em linha com as denúncias de Lukashenko, ligadas a uma suposta "agressão externa", o tratado também define uma política comum e a obrigação de defender a "integridade e a inviolabilidade do território da União".
O Kremlin também mencionou o "braço armado" da comunidade pós-soviética, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma espécie de Pacto de Varsóvia, liderada pela Rússia.
Segundo o documento, a Rússia poderá intervir militarmente na Bielorrússia, mas só se Minsk o solicitar e no caso de uma agressão externa.
A posição de Vladimir Putin é considerada decisiva em relação ao futuro próximo da Bielorrússia, designadamente quanto à permanência ou não de Lukashenko no poder.
A Bielorrússia tem grande importância geopolítica para a Rússia em relação ao avanço da NATO para leste que se iniciou com o fim da União Soviética.
Na sua primeira década à frente do Kremlin (2000-2009), Putin subsidiou a economia planificada da Bielorrússia com gás e petróleo a baixo preço e empréstimos em condições muito vantajosas.
Mas, com a crise global e a retração económica da Rússia, a situação alterou-se e Putin acabou por ceder à pressão dos membros mais liberais do seu executivo. Em 2019, aprovou o aumento de preços da energia e cortes nos créditos a Minsk.
Desagradado com as alterações, Lukashenko recusou assinar o tratado de união estatal com a Rússia e, durante a campanha eleitoral, acusou várias vezes Moscovo de apoiar a oposição.
Analistas russos apontam que, mais que o futuro de Lukashenko, é a relação da Rússia que pode vir a estar em causa, uma vez que a oposição bielorrussa, embora mantenha laços com Moscovo, não quer manter o país como protetorado russo.
Caso Lukashenko seja afastado do poder, a última economia planificada da Europa vai ter de fazer mudanças profundas na sua política externa para assegurar novas fontes de energia e proceder a privatizações.