19 ago, 2020 - 08:47 • Maria João Costa
Este golpe de Estado está a preocupar as autoridades portuguesas. Porquê?
É que Portugal tem desde 1 de julho, uma Força Nacional Destacada no Mali, no âmbito da “Minusma”, a Missão para Estabilização das Nações Unidas do Mali. Estão naquele país 74 militares da Força Aérea Portuguesa e um avião de transporte C-295.
Este destacamento português tem várias missões, entre elas assegurar o transporte de passageiros e carga, a evacuação médica e vigilância aérea.
O ministro da Defesa diz estar a acompanhar com grande preocupação a crise no Mali. João Gomes Cravinho sublinha "a ilegitimidade da imposição" da força para resolver o conflito e “considera fundamental respeitar a ordem constitucional do país”.
E de que forma é que a comunidade internacional está a acompanhar esta situação no Mali?
O Governo francês reagiu de imediato e condenou este golpe de Estado militar. O ministro dos Negócios Estrangeiros mostrou o empenho francês na soberania e democracia do Mali. Também o executivo espanhol se mostrou preocupado com a situação. Bem como os Estados Unidos que estão contra qualquer mudança de Governo imposta pelas forças que estão nas ruas.
E as Nações Unidas? Também acompanham este golpe de Estado no Mali?
O secretário-geral da ONU diz estar a acompanhar com profunda preocupação a situação no Mali. António Guterres já condenou o motim militar que levou à detenção do Presidente e do primeiro-ministro e apelou à restauração imediata da ordem constitucional e à libertação dos responsáveis políticos.
A pedido de França e do Níger, o Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir hoje mesmo de urgência para discutir a crise no Mali. A reunião terá lugar esta tarde, à porta fechada.
Mas afinal o que se passou nas últimas horas naquele país da Africa Ocidental?
O Presidente do Mali e o seu primeiro-ministro foram detidos ao final da tarde de ontem durante uma revolta militar.
África
O porta-voz dos militares garantiu que todos os ac(...)
O presidente Ibrahim Boubacar Keïta acabou por surgir, depois de ser detido, na televisão a fazer uma declaração a dizer que se demitia e que ia dissolver o governo e o parlamento. Aquele responsável explicava que queria assim evitar que fosse derramado sangue nas ruas para o manter no poder.
Os autores do golpe de Estado assumiram o controlo de um campo militar e avançaram para o centro da capital. Em Bamaco, foram recebidos com aplausos pelos manifestantes que exigiam a demissão do presidente Ibrahim Boubacar Keita.
O que pode estar na origem deste golpe de Estado?
O Mali teve eleições legislativas entre março e abril e a vitória foi atribuída ao partido da União para o Mali, do Presidente Keita, contudo, não teve a maioria absoluta necessária para governar sem o apoio de outras forças políticas.
O chefe de Estado contestou a eleição de 31 deputados da oposição e obrigou o Tribunal Constitucional, por si dominado, a pronunciar-se. O Tribunal acabou por deliberar que os deputados teriam de abandonar o cargo e que deveriam ser convocadas novas eleições.
Esta instabilidade, aliada a uma frágil situação económica, a corrupção e a guerra contra grupos armados são os principais fatores que podem ter conduzido a esta crise.
E quem é o grande opositor do presidente que acabou de se demitir?
Chama-se Mahmoud Dicko, é um imã que tem sido uma figura mobilizadora da oposição ao presidente agora deposto. Estudou na Arábia Saudita, e tem organizado protestos que têm reunido milhares de pessoas nas ruas de Bamako.
Já se sabe alguma coisa sobre os militares que detiveram o presidente e o primeiro-ministro?
Acabaram há instantes de dizer que querem uma "transição política civil" que conduza a eleições gerais dentro de um "prazo razoável". O grupo autodenominado Comité Nacional para a Salvação do Povo diz que quer assumir as responsabilidades perante o povo
Um porta-voz dos militares e vice-chefe de Estado-Maior da Força Aérea fez uma declaração na televisão pública em que diz que o Mali “afunda-se dia após dia no caos, na anarquia e na insegurança” e culpa os dirigentes políticos a quem acusa de "clientelismo político" e "a gestão familiar dos assuntos do Estado".