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Crise no Mali. Ainda não há acordo para a transferência de poder

24 ago, 2020 - 20:29 • Lusa

Junta militar e Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental concluíram esta segunda-feira três dias de negociações.

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A junta militar que tomou o poder no Mali na semana passada e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) concluíram hoje três dias de negociações sem acordo para a transferência de poder para os civis.

Segundo a agência France-Presse, as duas partes acrescentaram que a reitegração do ex-presidente maliano, Ibrahim Boubacar Keita, alvo de um golpe militar na passada terça-feira, está fora das negociações, depois de este ter dito aos representantes da CEDEAO que já não queria governar.

A reintegração de IBK era uma das exigências iniciais da organização regional.

A junta militar acrescentou ainda que não há qualquer decisão sobre a transição política e que a decisão “será feita entre os malianos”.

O porta-voz do Comité Nacional para a Salvação do Povo (CNSP, órgão criado pelos golpistas), Ismael Wague, citado pela agência Efe, apontou que “qualquer discussão sobre os termos da transição, o seu presidente e a formação do Governo, será feita entre os malianos”, incluindo partidos políticos, sindicatos e sociedade civil.

“Em nenhum momento se falou de um Governo de maioria militar” nas discussões com a CEDEAO, acrescentou Wague, rejeitando as informações divulgadas no fim de semana que apontavam para que a junta decidisse um período de transição de três anos durante o qual o Mali seria liderado por um militar nomeado pela junta.

“Confiem em nós nesta difícil transição”, tranquilizou Wague.

Ainda assim, o porta-voz não explicou quais são as questões a serem atualmente discutidas entre CNSP e a CEDEAO, organização regional que na passada quinta-feira excluiu o Mali dos seus órgãos de decisão e impôs sanções económicas ao país, em resposta ao golpe de Estado.

No domingo, uma fonte da equipa de mediadores da CEDEAO no Mali citada pela agência France-Presse afirmou que a junta “deseja conduzir uma transição de três anos para rever os fundamentos do Estado maliano”, acrescentando que nesse período, a transição seria dirigida por um órgão presidido por um militar”, que desempenharia funções de chefe de Estado.

A mesma fonte indicou que a junta militar concordou que o Presidente deposto, Ibrahim Boubacar Keita, detido pelos militares desde o golpe de Estado de terça-feira, possa regressar à sua residência e que possa viajar para receber cuidados de saúde.

A France Presse apontou ainda que uma fonte da junta militar confirmou as informações dadas pela fonte da CEDEAO.

O golpe de Estado começou com a detenção pelos militares de Ibrahim Boubacar Keïta e do seu primeiro-ministro, Boubou Cissé, bem como a detenção de altos funcionários civis e militares, que foram levados para o campo militar de Kati, nos subúrbios da capital maliana.

Este golpe de Estado é o quarto na história do Mali, que se tornou independente da França em 1960. Os militares tomaram o poder em 1968, 1991 e 2012, tendo o último golpe de estado aberto as portas do país a grupos 'jihadistas'.

Portugal tem no Mali 74 militares integrados em missões da ONU e da UE.

Antigo primeiro-ministro (1994-2000), Ibrahim Boubacar Keita, 75 anos, foi eleito chefe de Estado em 2013, e renovou o mandato de cinco anos em 2018.

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