20 set, 2020 - 22:14 • Redação
Dois dos documentos dos “FinCEN Files” revelados este domingo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) envolvem os nomes de Isabel dos Santos e do marido, Sindica Dokolo.
A notícia foi avançada pelo Expresso, que participou na investigação do ICIJ que revelou como alguns dos maiores bancos permitiram que criminosos movimentassem dinheiro sujo em todo o mundo.
Segundo o semanário, o nome de Isabel dos Santos e do marido está envolvido em dois relatórios sobre atividades suspeitas em 2013 nos Estados Unidos, por parte dos bancos JP Morgan e Standard Chartered, por causa de transferências ligadas à Unitel e ao negócio dos diamantes, em que Sindika Dokolo foi sócio do Estado angolano.
Os relatórios foram enviados à FinCEN, a agência federal norte-americana responsável por processar e reencaminhar suspeitas sobre potenciais esquemas de lavagem de dinheiro para eventual investigação pelas autoridades policiais, e foram agora divulgados.
Um dos relatórios visados na investigação, datado de outubro de 2013, menciona uma transferência de quatro milhões de dólares, feita em 2012 por Sindika Dokolo para uma conta de uma empresa holandesa, a Melbourne Investments BV, que passaram por uma conta correspondente do JP Morgan.
Já em 2020, o Luanda Leaks revelou detalhes sobre essa transferência. Os quatro milhões de dólares foram usados por Sindika Dokolo para se tornar sócio da empresa estatal angolana Sodiam numa companhia de diamantes de luxo na Suíça, a De Grisogono, que abriu falência no início deste ano.
Investigação jornalística a documentos "leakados" (...)
O segundo relatório, também de 2013, enviado pelo Standard Chartered, em Nova Iorque, à FinCEN, menciona uma transferência suspeita de 18,7 milhões de dólares, datada de outubro de 2006.
A transferência foi feita entre a Unitel, empresa de telecomunicações angolana que Isabel dos Santos ajudou a fundar e cuja administração abandonou recentemente, e uma conta do BPI em Lisboa. O movimento foi feito em nome da Vidatel Limited, companhia offshore registada nas Ilhas Virgens Britânicas através da qual a empresária angolana detém 25% da Unitel em Angola.
Os "FinCEN files" incluem 2.657 documentos, entre os quais figuram 2.100 relatórios de atividades suspeitas. Esta fuga de informação mostra como decorreu o branqueamento de capital em alguns dos maiores bancos do mundo e como os criminosos utilizaram empresas britânicas anónimas para ocultar o dinheiro.
Os relatórios, enviados entre 1999 e 2017 por vários bancos às autoridades norte-americanas, conhecidos como SARs (Suspicious Activity Reports), revelam detalhes sobre transferências bancárias de mais de dois biliões de dólares (2 000 000 000 000, em algarismos).
Envolvidos no escândalo estão cinco dos principais bancos do mundo: o JP Morgan, o HSBC, o Standard Chartered, o Deutsche Bank e o Bank of New York Mellon.
Os documentos foram conseguidos pelo site de informação norte-americano BuzzFeed News, que partilhou com o consórcio de jornalistas.
Segundo o site, os documentos revelam que lucros de guerras relacionadas com a drogas, fortunas desviadas de países em desenvolvimento e dinheiro roubado num esquema Ponzi (esquema em pirâmide) foram todos autorizados a fluir para dentro e para fora dessas instituições financeiras, apesar dos avisos dos próprios funcionários dos bancos.