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​Covid-19 volta à Amazónia. Especialistas com dúvidas sobre imunidade de grupo

29 set, 2020 - 15:53 • Agência Reuters

Em abril e maio, morreram tantos residentes de Manaus com Covid-19 que os hospitais colapsaram e os serviços dos cemitérios não conseguiam responder com a velocidade necessária.

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A maior cidade da Amazónia brasileira fechou bares e praias fluviais para conter um novo surto de casos de coronavírus. O regresso da doença aquela zona levanta dúvidas sobre as teorias de que Manaus foi um dos primeiros lugares do mundo a alcançar a imunidade de grupo.

A imunidade de grupo é quando uma grande parte de uma comunidade já foi afetada pela doença, tornando a sua disseminação improvável.

Até agora, investigadores da Universidade de São Paulo acreditavam que a queda drástica do número de mortes por Covid-19 indicava a tal imunidade de grupo. No entanto, os estudos apontavam também para que os anticorpos contra a doença após a infecção possam não durar mais do que alguns meses.

Na sexta-feira passada, as autoridades locais proibiram, durante 30 dias, a realização de festas e outras reuniões, horários restritos em restaurantes e lojas comerciais, o que é considerado um revés para a cidade que tem 1,8 milhão de habitantes e que acreditava o pior da pandemia já teria ficado para trás.

Em abril e maio, morreram tantos residentes de Manaus com Covid-19 que os hospitais colapsaram e os serviços dos cemitérios não conseguiam responder com a velocidade necessária.

A cidade nunca adotou um confinamento total. As autoridades mandaram encerrar os negócios não essenciais, mas muitos simplesmente ignoraram as diretrizes de distanciamento social.

Em junho, o número de vítimas mortais registou uma queda abrupta e inesperada. Foi nessa altura que os investigadores levantaram a hipótese de ter sido alcançada a imunidade de grupo.

Um estudo publicado na semana passada estima que entre 44% a 66% da população de Manaus foi infetada entre o pico em meados de maio e agosto.

Este estudo, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, fez testes a recentes colheitas de sangue e usou um modelo matemático para estimar os níveis de contágio. A alta taxa de infeção sugere que a imunidade coletiva levou à queda dramática de casos e mortes, disse o estudo.

Os enterros e cremações diários caíram de um pico de 277 a 1 de maio para 45 em meados de setembro, de acordo com o gabinete do prefeito.

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Agora os números estão a aumentar outra vez.

Segundo a agência Reuters, a investigadora principal do estudo, Ester Sabino, não quis prestar declarações porque o estudo de imunidade de grupo de Manaus ainda está a ser revisto.

As autoridades alertaram os moradores de Manaus sobre os riscos de ignorar o vírus e sobre uma possível segunda vaga devido à falta de uso de máscaras, ajuntamentos em bares e festas.

O prefeito de Manaus, Arthur Virgilio, culpou até o presidente Jair Bolsonaro, que minimizou a gravidade da pandemia, por estimular o retorno à vida normal e ao trabalho, em vez de esperar pelo desenvolvimento de uma vacina.

"O governo deve levar isso a sério e falar a verdade. Se disser que não há problema, isso incentiva as pessoas a ignorarem nossos decretos", disse o prefeito, em entrevista à agência Reuters.

O epidemiologista Dr. André Patricio Almeida, do Hospital Adventista de Manaus, disse que os casos estão a aumentar outra vez, principalmente entre os mais jovens e mais ricos com sintomas ligeiros e vão até a bares e frequentemente infetam familiares mais velhos que depois precisam de ser tratados no hospital.

Almeida admitiu que se sabe muito pouco sobre a Covid-19, reinfeções e imunidade de grupo, mas acredita que em Manaus foi alcançada alguma imunidade de curta duração.

“Pode haver imunidade que não dura muito”, concordou o prefeito Virgilio.

O estudo da Universidade de São Paulo disse que os anticorpos contra o coronavírus pareceram diminuir após alguns meses, o que poderia explicar o ressurgimento em Manaus.

"Algo que ficou evidente no nosso estudo - e que também está sendo demonstrado por outros grupos - é que os anticorpos contra o SARS-CoV-2 decaem rapidamente, poucos meses após a infeção", disse um de seus autores, Leis Buss, em nota pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP que acompanhou o trabalho.

“Isso está claramente a acontecer em Manaus”, disse Buss.

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