19 jun, 2020 - 07:33 • Anwar Boulos*
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De início, os egípcios não levaram muito a sério o problema da pandemia e acreditavam que era simplesmente uma gripe, e que se conseguiriam curar com limão e laranjas, cebolas e alho. Passo a passo, porém, com a ajuda da imprensa e da televisão perceberam a gravidade.
O Governo ordenou as pessoas a permanecerem em casa e na maioria as pessoas respeitaram. Proibiram-se agrupamentos, mesmo em casa, mas alguns continuaram a juntar-se para festas como casamentos, ou para funerais, o que levou o vírus a propagar-se mais facilmente.
Agora o Governo decretou que toda a gente use máscara quando sai à rua e nos transportes públicos e que ande sempre com um pequeno frasco de álcool. Temos tido muitas pessoas curadas, mas para aquelas que têm problemas cardíacos, alergias ou outras condições agravantes, o risco de morte é alto. Embora a Arábia Saudita tenha muito mais casos confirmados, o Egito é o país desta região que contabiliza mais mortes devido à Covid, com 1.938.
Muitos egípcios voltaram-se para Deus nesta altura. O primeiro foi o Presidente, que começa todos os seus discursos na televisão com uma citação do Alcorão. Todos os líderes religiosos aderiram também ao dia mundial de jejum e oração pelo fim da pandemia.
Tanto as mesquitas como as igrejas estão fechadas, bem como os cinemas, teatros e restaurantes. A maioria dos egípcios são muçulmanos, mas há uma grande comunidade de cristãos coptas, a maioria dos quais são da Igreja Copta Ortodoxa. Eu faço parte de uma comunidade mais pequena de coptas católicos, em união com Roma. Os missionários na nossa igreja no Assuão têm medo, mas acreditam que se tomarem as devidas precauções poderão evitar o vírus e dizem que toda a Igreja está a rezar para que o povo não seja afetado.
Alguns empregos mantêm-se ativos e as pessoas podem sair para comprar e vender até às 18h. Pessoalmente a pandemia tem-me afetado bastante. Sou guia turístico, e agora estou parado, porque não temos turistas.
Sem poder ir trabalhar, aproveito os dias para ir passear ao longo do Nilo, que banha a minha cidade e ao fim do dia aproveito a minha grande biblioteca, lendo e preparando os posts que faço no Facebook sobre comentário bíblico.
Até agora nem eu nem ninguém da minha família ficou infetado. Jesus é o meu escudo contra a doença.
*Anwar Boulos é formado em Filosofia e Teologia e também em Italiano e Espanhol. Vive e trabalha na cidade do Assuão, no sul do Egito.