11 abr, 2020 - 15:31 • Nicolas Ghobar*
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A situacão do mundo está muito má, por causa do vírus, e todo o mundo está a passar um tempo muito difícil. Nós aqui estamos na mesma situação.
Começou no dia 5 de março, um dia como qualquer outro, mas de repente as rádios e a televisão avisaram que por volta do meio-dia iam fechar alguns dias por causa dos infetados. Alguns levaram a coisa a sério, outras como brincadeira. Mas então as escolas começaram a ligar aos pais e as mães começaram a ficar stressadas por causa dos filhos e das compras de subsistência.
Houve trânsito nas ruas, acidentes, supermercados lotados e como noutros lugares o papel higiénico foi o primeiro a desaparecer, juntamente com as máscaras, vitamina C e desinfetantes das farmácias.
Percebeu-se que já não era brincadeira, pois a polícia começou a atuar, informando por altifalantes nas ruas e erguendo postos de controlo. O Ministério do Turismo e o Governo informaram as igrejas, lojas, mesquitas, bancos e qualquer centro ou instituição onde se juntam as pessoas para fechar, exceto farmácias, padarias e supermercados. Os hotéis não podiam deixar turistas hospedar-se e as agências de viagens tiveram de resolver os problemas como os hotéis, com a polícia das fronteiras, com as agências estrangeiras e resolver como trocar as passagens dos clientes. Atá as embaixadas tiveram que interferir, já que não deixavam ninguém entrar da Palestina para Israel, e quando ouvimos que Israel ia fechar as fronteiras e os aeroportos instalou-se o pânico.
Avisaram que eram 14 dias de quarentena. Ao saber que eram tantos casos de infetados, e da falta de botijas de oxigénio e camas nos hospitais, sentimos que parecia uma guerra. Tiveram de usar os hotéis como centros de quarentena. Passada uma semana já informaram que ia ser um mês e a semana passada informaram que temos de ficar mais um mês em casa.
Neste momento sentimo-nos abandonados, pois informam que tudo vai estar fechado e há que cumprir. Mas as famílias que têm filhos, ou os que têm os pais velhos, ou avós, ou que não trabalham, que vão fazer? Temos o problema de falta de alimentação básica, mas também, como em qualquer parte do mundo, há pessoas que não têm dinheiro para comprar os medicamentos ou pagar as faturas da luz, água ou gás. Estas coisas não são de graça, cada um está a desenrascar-se como pode. Alguns com nível económico alto contribuíram, oferecendo dinheiro às paróquias e os párocos, com a ajuda dos escuteiros, distribuíram o básico para uns 10 dias a algumas famílias em situação pior. Vizinhos ajudam vizinhos, alguns donos de pequenos supermercados entendem a situação económica de algumas famílias que conhecem e vendem a crédito. Mas tudo isto soma-se a problemas políticos, económicos e outros, que ainda não acabaram, tudo por causa da terra prometida, onde nasceram as três religiões monoteístas e onde nasceu o Príncipe da Paz. Mas a paz ainda não chegou, porque ainda não se entendem.
Aqui temos um ditado que diz: “Quem está molhado não tem medo da chuva”, ou seja, estamos nesta situação há séculos, isto não é nada de novo, mas temos fé que tudo se vai resolver.
Aqui na cidade de Belém temos a Basílica da Natividade e os hotéis, restaurantes, guias, vendedores, oficinas de artesanato, etc.. Tudo depende do turismo e dos peregrinos que vêm visitar a basílica. Estamos a falar de mais de 40,000 pessoas que vivem disso. Que vão fazer? Porque também não achamos que vêm turistas este ano, e ainda faltam oito meses.
Sei que a coisa está mal no mundo inteiro, mas aqui estamos ainda pior, porque com certeza algumas instituições, ou os governos, vão ajudar os seus povos. Temos fé que alguém vai lembrar-se de nós. Se Deus quiser rapidamente encontrarão solução para este vírus, para que a vida volte à normalidade.
Temos que ter fé que depois da tormenta chega a calma, com a ajuda de Deus rapidamente as igrejas voltarão a abrir e os hospitais estarão vazios. Poderemos abraçar os nossos familiares e amigos e estar mais perto de Deus, e agradecer por ter a oportunidade que ainda estamos vivos no final desta pandemia, porque Ele é a luz que está a fundo do túnel, Ele é que tem a solução e é o nosso Bom Pastor, que nos protege.
Domingo de Ramos foi o primeiro em séculos em que não havia cristãos para receber Jesus a entrar em Jerusalém. Mas nós somos a Igreja e recebemo-lo nos nossos corações. Se Deus quiser, em breve Jerusalém, Belém e toda a Terra Santa estará cheia de fiéis, porque afinal esta terra é de todos.
Desejo a todos uma Santa Páscoa, muito obrigado.
*Nicolas Ghobar é um cristão palestiniano e escreve-nos de Belém, onde vive e trabalha como guia para peregrinos de língua portuguesa e espanhola. Todos os anos vem a Portugal na altura do Natal para vender peças de artesanato feitos pelos cristãos da Terra Santa.