12 abr, 2020 - 07:30 • Ir. Annie Demerjian*
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É muito doloroso o que o mundo está a passar neste tempo. O Santo Padre nos está a tentar animar-nos espiritualmente com orações e palavras de consolação.
Enquanto povo, nós os Sírios, passámos por tempos muito difíceis. Não devemos entrar em pânico com as notícias, pois elas podem de facto provocar o pânico em nós. Digo muitas vezes que uma das coisas mais difíceis acerca da guerra na Síria foi os media. As más notícias afectaram-nos a todos. Portanto, nesta situação de pandemia causada pelo coronavírus, não entrem em pânico com as notícias, mas sigam todas as instruções relacionadas com os cuidados de saúde. Sim, nós temos fé em Nosso Senhor, mas não podemos esperar uma solução mágica com as orações. A fé não é um botão mágico onde se carrega esperando que tudo se resolva.
A dor e o sofrimento existem, mas também não podemos esquecer que a Ressurreição existe diariamente. A nossa vida é como uma medalha: uma face está cheia de dor e sofrimento, mas na outra face está a Ressurreição com Nosso Senhor, com a face livre de todo o sofrimento. Temos de confiar no Senhor, mas nunca pô-Lo à prova.
Também devemos dar o nosso melhor. Lembro-me que, quando havia bombas sempre a rebentar, nós não tínhamos outra opção senão ficarmos em casa. O Senhor estava lá connosco, mas nós sabíamos que tínhamos de ficar em casa nos tempos mais difíceis. Isto é o que de mais importante podemos fazer agora. Precisamos de ajudar os membros das nossas famílias, os nossos amigos, os mais necessitados e uns aos outros a animar-nos, e tudo passará.
Aqui na Síria, o Governo encerrou escolas e universidades, os funcionários públicos foram mandados para casa, as igrejas pararam todas as suas actividades, foram fechadas e não há Missa. Tentamos ter muito cuidado. Realmente seria um desastre se houvesse um surto de coronavírus por aqui. Os hospitais carecem de equipamento, sobretudo porque a Síria está a passar por um período muito difícil por causa da guerra. As fronteiras estão fechadas. É muito importante respeitar aquilo que o Governo e a Igreja nos pedem, a fim de ajudar a proteger o nosso povo.
Em Alepo, os nossos grupos de voluntários continuam a visitar os lares onde é seguro fazê-lo, com muito cuidado. Estamos a auxiliar os idosos, sobretudo por existirem tantos que não têm outra ajuda. E, em Damasco, as nossas irmãs estão a ajudar alguns idosos a comprar aquilo de que eles necessitam, para que evitem sair à rua. As pessoas não têm nada em que se apoiar. Como irão sobreviver? Nós damos-lhes aquilo de que necessitam. O nosso habitual esforço financiado pela fundação AIS permitiu-nos oferecer a mais de 22 mil crianças de toda a Síria um par de calças de ganga e uma camisola quente. Podem imaginar a alegria das nossas crianças! Desta vez, os idosos de Alepo receberam um par de sapatos quentes. Agora, nestes dias, a ajuda continua, sobretudo àqueles com idosos que dela dependem, e esses continuam a receber cabazes de supermercado e dinheiro para fazer frente às suas necessidades básicas. Outras famílias são apoiadas com dinheiro.
Claro que esta é a altura e a oportunidade para dizermos a todos os nossos benfeitores da Fundação AIS que agradecemos com sinceridade toda a vossa enorme generosidade. Vocês ajudam-nos há tantos anos e continuam a fazê-lo. Todos nós na Síria estamos muito gratos! E que Deus continue a abençoá-los a todos e às vossas famílias com saúde e segurança!
*A irmã Annie Demarjian é natural da Síria, onde vive e trabalha. Este postal foi escrito originalmente para os benfeitores da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, a quem a Renascença agradece a cedência do texto.