04 mai, 2020 - 08:00 • Elsa Gonçalves*
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Em janeiro começou-se a ouvir falar dos primeiros casos de Covid-19 em França. Sabendo nós qual a situação e os possíveis sintomas, isso não nos assustava. A ideia de estarmos presentes a um novo surto de gripe e a possibilidade do exagero por parte dos medias era um pensamento constante. À medida que os dias passavam, os casos aumentavam no território francês. A partir do mês de fevereiro começámos a perceber que não era uma simples gripe, pois os médicos já nos diziam de que se tratava de algo bastante sério.
No laboratório, as amostras biológicas que recebíamos para realizar os testes de diagnóstico da doença Covid-19 cresciam exponencialmente. No dia 14 de março de 2020, pelas 20h, o primeiro-ministro, Édouard Philippe, pediu para que a partir das 23h desse dia todo os cafés, bares e restaurantes fechassem até novas ordens e só os comércios de bens de primeira necessidade ficariam abertos e com restrição.
No hospital percebemos que também iriam ocorrer mudanças nos horários e na organização das equipas. A direção decidiu que cada serviço seria dividido em duas equipas, de forma a não se cruzarem, justificando-se que a probabilidade de contaminação da equipa na sua totalidade seria bastante baixa. Assim, no dia 16 de março de 2020, a nossa equipa de 14 elementos foi dividida para 7 elementos cada. Desde então, o cansaço físico e mental tem aumentado a olhos vistos, o trabalho aumentou e o número de elementos na equipa diminuiu. A carga horária aumentou e o número de horas extraordinárias também.
O medo de contarminarmo-nos ao tocar no que quer que seja e de levar o vírus para casa é constante. Posso não estar muito em contacto direto com os pacientes mas recebemos para análises amostras biológicas das vias respiratórias que são “bombas de vírus”.
Por isso, é necessária toda uma protecção individual (batas descartáveis, máscaras, óculos e toucas), sendo estas muito escassas, tal como acontece em todos os países vizinhos. As máscaras são constantemente pedidas, mas dá para entender que elas encontram-se guardadas e quase contadas. As máscaras são uma protecção vital e, ao fim de algumas horas, as orelhas ficam dormentes, o nariz e a cara ficam com marcas devido ao elástico.
Na deslocação para o local de trabalho é necessário um atestado do Governo previamente preenchido, caso contrário poderemos ser multados.
O acolhimento de tantos casos de Covid-19 por parte dos nossos serviços não era algo previsível. Aconteceu pelo simples facto de já não haver espaço nos hospitais mais próximos e então essa ajuda foi necessária. O hospital teve de se adaptar.
Nas ruas vêem-se algumas pessoas com máscaras, mas a partir do dia 11 de maio de 2020 (fim do confinamento), o uso de máscara será obrigatório em alguns locais públicos, como por exemplo, nos transportes públicos.
*Elsa Gonçalves vive em Paris, onde trabalha como técnica de análises clínicas num hospital.