20 abr, 2020 - 15:17 • Chary Teixeira*
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A Venezuela está numa situação muito difícil e o coronavírus só veio agravar ainda mais a situação. O setor da saúde já estava a atravessar uma crise muito grave, então a Covid-19 piorou tudo, além disso a pouca credibilidade que o Governo tem aos olhos dos venezuelanos faz com que os dados que as autoridades dão de contágios, recuperados e falecidos não seja tomado muito a sério. Pensa-se que são muitos mais os contagiados e os falecidos.
Para além disso é preciso somar o facto de que no nosso país (que foi um dos principais produtores de petróleo do mundo) não há gasolina. Parece uma piada de muito mau gosto, mas não é. No interior do país (Ocidente e Sul) estamos já há mais de um ano com esta crise, fazendo filas durante dias, arriscando por causa da insegurança, dormindo nos carros duas ou três noites para conseguir encher pelo menos 30 litros de gasolina no carro.
Agora, a situação "chegou" a Caracas, a capital do país, onde muitas pessoas queixam-se de passar entre seis e oito horas nas filas de quilómetros para ter gasolina. No interior do país a situação é muito mais grave do que no início, uma vez que agora não há mesmo gasolina, só os médicos, polícias e pessoas ligadas às instituições do Estado podem pôr gasolina, quando há, nos carros. Também há os corruptos que vendem a gasolina, e que cobram até 30$ por 20 litros de gasolina, um preço realmente alto.
As empresas, que já tinham situações de fluxo de capital muito comprometidas, agora estão fechadas e a promessa do Governo (feita em Transmissão Nacional pelo Presidente Maduro) de pagar os salários dos empregados não foi cumprida, o que veio agravar ainda mais a terrível situação dos trabalhadores venezuelanos, muitos dos quais sustentam as famílias apenas à base de mandioca, farinha de milho e sardinha. Há quem vá à rua diariamente para vender algum doce, alguma comida feita em casa, ou tentar "achar" o sustento; eles também estão em situação comprometida. Algumas pessoas têm uma situação mais estável economicamente, mas não são a maioria.
Para a minha família não é fácil, o negócio que sustenta a minha família está fechado e os empregados em casa. Eu "ajudo" pagando um salário básico, mas lamentavelmente não sabemos até quando, com a empresa fechada não há fluxo de caixa, portanto...
Na minha família somos o meu marido, a minha filha de um ano e meio e eu. Temos de pagar alimentação e gastos prioritários, mas poupamos o máximo possível. Só temos 1/4 de combustível no carro, portanto quase não temos possibilidade de sair, mesmo, porque temos isso guardado para o caso de termos uma emergência com a bebé.
Os alimentos são cada dia mais caros e a economia nacional está completamente dolarizada, mas os salários continuam a ser em bolívares e portanto, obviamente, insuficientes.
*Chary Teixeira nasceu na Venezuela mas é luso-descendente. Trabalha no negócio de família, no ramo da hotelaria e vive em El Tigre, que fica a cerca e 450 km de carro de Caracas. É casada e tem uma filha.