18 ago, 2020 - 06:40 • Alasdair Madden*
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Quando o confinamento foi anunciado na Escócia, no dia 23 de março, houve um sentimento quase universal de aceitação. Na maioria, os escoceses estavam relativamente em paz, pelo menos no início, com a ideia de que muitos dos seus hábitos sociais pré-pandémicos teriam de ser temporariamente suspensos. As idas ao ginásio, uma refeição espontânea com amigos, um alucinante dia de compras no final do mês, depois de receber o ordenado (e em pessoa, claro), copos numa sexta-feira à noite, para assinalar o início do fim-de-semana – todos os aspetos da vida que os escoceses davam por adquiridos antes de a pandemia ter tecido a sua teia silenciosa de disrupção. Entretanto as restrições foram amenizadas e as vidas começaram a regressar a algo vagamente parecido com o “normal” pré-pandémico. Mas, para mim e para muitos outros na Escócia, ainda falta uma coisa: ir à bola ao sábado.
Eu sou adepto do Kilmarnock Football Club, uma equipa de meio da tabela da primeira liga escocesa. Antes da pandemia, na maioria dos sábados podiam encontrar-me a caminho do nosso estádio, Rugby Park, ou outros estádios como o Easter Road, do Hibernian, na capital. Num terrível golpe de azar, o meu último jogo fora antes do confinamento foi uma ida ao Estádio Fountain of Youth, do Hamilton Accies. Nesse dia o Kilmarnock perdeu 1-0, num jogo mortiço, desinspirado e totalmente olvidável. Foram 90 minutos tão deprimentes que só a notícia de que o futebol escocês ia ser suspenso, com efeitos imediatos, como parte do esforço do Governo de limitar a propagação do vírus é que podia ter agravado a minha miséria. Dentro de poucos dias, contudo, eu e todos os outros adeptos de futebol no país estavam a enfrentar essa realidade.
Para meu alívio gosto de ver jogos de outros clubes espalhados pelo mundo e sou adepto de “groundhopping”, o hábito de visitar estádios. Enquanto estudava em Estrasburgo, França, há alguns anos, comprei um bilhete de época para ver o Racing Club Strasbourg Alsace. No final dessa época estava viciado em “groundhopping” e desde então tenho ido a jogos na Alemanha, Bélgica, Portugal, Dinamarca, Holanda, Suíça, República Checa, Irlanda do Norte, Estados Unidos e o surreal principado do Mónaco. Escrevo sobre algumas destas viagens no meu site. Tipicamente os posts discutem a experiência do dia do jogo, mas olhando também para vários aspetos geopolíticos, culturais e históricos relacionados com o clube em questão.
No final de abril tinha planeado visitar o Stadio Olimpico de Roma, Itália, para ver o Roma contra o Inter Milan. Obviamente essa viagem foi adiada, mas ainda aproveitei da melhor maneira um fim-de-semana no sudoeste da Escócia em vez de na capital italiana. Vi uma repetição antiga da final da Coppa Italia de 2006, comi de mais e absorvi o raro calor do sol da primavera escocesa. De certa forma esses meus dias definem a experiência de confinamento de pessoas em todo o país. Confrontados com a desilusão (em diferentes graus) e, para muitos, a grande adversidade, as pessoas tiveram de fazer cedências e tentar manter-se animadas.
Ninguém sabe bem o que se vai passar ao longo dos próximos meses, ou mesmo anos. Eu só espero que não passe muito tempo até poder voltar a ver futebol ao vivo, nem que seja um miserável jogo fora contra o Hamilton Accies.
*Alasdair Madden tem 24 anos e é advogado estagiário. Vive em Glasgow, na Escócia, e nos seus tempos livres produz um podcast sobre futebol europeu e gere um blog sobre deslocações de futebol.