12 out, 2020 - 10:38 • Marta Grosso
É preciso encontrar “o caminho do meio”, ou seja, “manter o vírus num nível que permita manter a vida económica e social”, defende o responsável da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Covid-19 na Europa.
Em entrevista à televisão da revista britânica “The Spectator”, David Navarro considera que “vamos ter de aprender a coexistir com este vírus de uma maneira que não requeira constantes encerramentos das economias e, ao mesmo tempo, que não implique altas taxas de sofrimento e morte”.
“É o que chamamos o caminho do meio. É exequível, mas implica um alto nível de organização por parte dos governos e uma imensa capacidade de compromisso por parte das pessoas, o que se tem demonstrado muito difícil em alguns países”, lamenta.
Na opinião pessoal deste responsável da OMS, “o pior [da pandemia] ainda não passou” e o novo coronavírus “ainda está no princípio da sua convivência com a raça humana”.
“As nossas estimativas [da organização] dizem que, possivelmente, 10% da população já estiveram em expostos ao vírus, faltam 90%”, acrescenta.
O confinamento não deve, por isso, ser a primeira solução, mas o último recurso, defende David Nabarro.
Postal de Quarentena - Roterdão
Com o total de perto de 68 mil casos, a Holanda já(...)
“Na Organização Mundial da Saúde, não defendemos o confinamento como o principal meio de controlo deste vírus”, afirmou na entrevista. “Um bloqueio só se justifica para ganhar tempo, para nos dar algum ‘espaço para respirar’ e reconstruir a estratégia de testes, o sistema de deteção de contactos, as organizações locais, de maneira a que, findo o confinamento e no caso de novos surtos, consigam reagir muito elegante”, afirmou.
E, “porque este vírus vai cá andar ainda por muito tempo, há perceber como manter a economia a funcionar e o número de casos em baixo. Penso que será o irá acontecer depois desta bolha”, considerou o responsável.
“O caminho do meio é implementar defesas robustas contra este vírus, para quando voltar a fortalecer-se nalgum local, possamos atacá-lo e acabar com os surtos rapidamente. Para isso, precisamos de duas coisas: serviços de saúde locais muito bem organizados, com capacidade para fazer testes, controlar os contactos e manter as pessoas em isolamento”; em segundo lugar, isto “resulta melhor se estivermos todos juntos neste combate e as pessoas estiverem colaborarem”.
Como? “Mantendo o distanciamento, usando a máscara, lavando as mãos, não saindo de casa se estiverem contaminados ou com sintomas e protegendo os mais vulneráveis”, aponta Nabarro.
“Se conseguirmos fazer isto, podemos ultrapassar isto. É o que os países de Leste têm feito. A Alemanha está a ter um bom resultado e o Canadá também”, refere ainda.
O responsável apontou depois os prejuízos causados pelos confinamentos na economia global, com “apenas uma consequência que ninguém deve nunca menosprezar: tornar os pobres muito mais pobres”.
“Veja o que aconteceu com os pequenos agricultores em todo o mundo. Veja o que está a acontecer com os níveis de pobreza. Tudo indica que podemos a pobreza mundial pode vir a duplicar no próximo ano”, avisou.
Questionado sobre a não existência de uma estratégia global, David Nabarro concorda e explica o que poderá estar na sua origem.
“É um vírus totalmente novo que não tem nada a ver com outros, nem mesmo com o SARS de 2003. E porque é novo estamos sempre a aprender, por isso não é de estranhar que os governos digam que a OMS também não sabe bem o que fazer” e vão tomando as suas medidas individuais.
Mas, “no Reino Unido ou no Bahrein, o vírus é o mesmo e a resposta deveria ser global”, defende.
Questionado sobre a não existência de uma estratégia global, David Nabarro concorda e explica o que poderá estar na sua origem.
“É um vírus totalmente novo que não tem nada a ver com outros, nem mesmo com o SARS de 2003. E porque é novo estamos sempre a aprender, por isso não é de estranhar que os governos digam que a OMS também não sabe bem o que fazer” e vão tomando as suas medidas individuais.
Mas, “no Reino Unido ou no Bahrein, o vírus é o mesmo e a resposta deveria ser global”, defende.
É certo que a OMS tem transmitido orientações um pouco contraditórias. No que respeita ao confinamento, por exemplo, na altura em que os países começaram a reabrir as suas economias, a organização alertou contra o desconfinamento precoce.
“A última coisa que qualquer país precisa é abrir escolas e empresas, apenas para ser forçado a fechá-los novamente por causa de um ressurgimento”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
O responsável máximo da organização pediu, contudo, aos países que apoiassem outras medidas, incluindo testes generalizados e rastreamento de contactos, para que pudessem reabrir com segurança e evitar bloqueios futuros.
“Precisamos chegar a uma situação sustentável em que tenhamos o controlo adequado deste vírus sem desligar totalmente nossas vidas ou cambalear de confinamento em confinamento – o que tem um impacto extremamente prejudicial às sociedades”, defendeu.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de um milhão e 74 mil mortos e mais de 37,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.