16 out, 2020 - 16:45 • Pedro Mesquita
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Desde o início da pandemia 95.902 portugueses já foram infetados, enquanto na China, onde nasceu a Covid-19, só houve até hoje 91.359 casos.
Serão credíveis, os números apresentados por Pequim? O Ocidente tem grandes dúvidas. Será mais fácil acertar no Euromilhões do que encontrar uma resposta válida para esta pergunta, sobretudo porque não é possível fazer uma avaliação independente.
Os números causam admiração se pensarmos que a população chinesa ronda os 1.400 milhões de seres humanos e em Portugal vivem pouco mais de 10 milhões.
Não há como fazer a “prova dos 9”, mas a Renascença resolveu telefonar a um português que reside em Wuhan, onde a pandemia despertou, com grande alarme, o mundo inteiro.
António Rosa começa por nos dizer que não conhece, neste momento, qualquer caso de infeção em Wuhan, e há um dado essencial que sublinha: os chineses são mesmo muito rigorosos nos cuidados perante a Covid-19. Mas serão credíveis os números oficiais de Pequim?
"Não tenho dados para responder a isso, não lhe sei dizer, mas não conheço nenhum caso. Agora, se quer que lhe diga, não olho para isto com grande surpresa. Só estando cá é que percebe. Aqui o cuidado e o rigor são muito elevados. Numa situação normal eu diria que sim, que estava surpreendido, mas neste caso os cuidados são mesmo muito apertados", afirma este emigrante português em Wuhan.
De acordo com os resultados, foram detetadas respo(...)
Os números oficiais são o que são, mas importa também percebermos até onde vão os cuidados na China para conter a pandemia.
"Aqui anda toda a gente de máscara, mesmo nas ruas, e anda muito vigilante. Por exemplo, se eu quiser agora viajar para outra província da China terei que ser testado, e poderei ser colocado em quarentena. Todos os dias tenho que medir a temperatura à entrada e saída do condomínio onde moro e, quando chego ao trabalho, tenho que medir, de novo, a temperatura. Há um escrutínio muito elevado em toda a parte. Não posso entrar numa loja, num restaurante, num supermercado sem medir a temperatura. Ou seja, há um nível de controlo e rigor que nunca diminuiu desde o início", conta António Rosa.
Os chineses nunca baixaram a guarda e boa prova disso é o número de testes que António Rosa fez, desde que regressou a Wuhan.
"Eu cheguei há coisa de uma ou duas semanas, e já fiz quatro testes de Covid: fiz em Portugal, antes de vir, fiz durante a quarentena e no final, e fiz mais um teste ao sangue para verificar se tenho anticorpos, para poder voltar a trabalhar. E isto são procedimentos obrigatórios".
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Mas há muitas mais regras e sem discussão. Por exemplo, a aplicação “StayAway Covid” chinesa é mesmo obrigatória e funciona como um semáforo.
"A app existe desde janeiro ou fevereiro, e é obrigatória a sua instalação. Toda a gente tem que ter um código verde para poder circular. Se o código não estiver verde, essa pessoa terá que em casa, de quarentena, para não contaminar os outros. Não lhe será permitido o acesso a qualquer local."
Ou seja, se o código for vermelho, nem vale a pena tentar ir a uma loja ou restaurante.
Em contrapartida, a questão dos lares não se põe. Em Portugal têm sido um dos principais focos de alarme, mas a realidade chinesa é mesmo diferente, também no plano cultural.
"Aqui praticamente não existem lares. O normal é que os avós vivam com os seus filhos e os netos, percebe? Aqui não há muito essa ideia 'do descartar' as pessoas mais velhas. Os mais idosos convivem numa mesma casa com o resto da família. Esse problema não se põe cá porque não é frequente colocar as pessoas em lares", afirma António Rosa.
Em síntese, os números chineses da Covid causam grande surpresa e não têm gerado grande credibilidade, à escala mundial, mas só temos acesso aos números oficiais. Agora, é verdade que a prevenção é muito mais apertada. Seria possível impor medidas tão apertadas no mundo ocidental? Poucos acreditarão que sim.