21 out, 2020 - 11:34 • Sofia Freitas Moreira com agências
Na noite de terça-feira, várias pessoas foram mortas por ações das forças de segurança numa zona de portagem da localidade de Lekki, na região da cidade de Lagos, segundo a secção nigeriana da Amnistia Internacional.
"A Amnistia Internacional recebeu evidências confiáveis, mas alarmantes, de que o uso excessivo da força levou à morte de manifestantes na portagem da localidade de Lekki", publicou a organização não-governamental dos direitos humanos na sua conta na rede social Twitter.
As forças militares nigerianas categorizam os relatos das mortes como “fake news” e o presidente do país, Muhammadu Buhari, apelou ao “entendimento e calma”. Entretanto, foi decretado um recolher obrigatório indefinido de, pelo menos, 24 horas.
"Enquanto continuamos a investigar as mortes, a Amnistia Internacional gostaria de lembrar às autoridades que, segundo o direito internacional, as forças de segurança só podem usar a força letal quando estritamente inevitável para se proteger contra uma ameaça iminente de morte ou ferimentos graves", indicou a organização.
Testemunhas citadas pelo jornal "Premium Times" garantiram que pelo menos sete pessoas morreram naquela área depois de o exército ter disparado contra os manifestantes, que haviam violado o recolher obrigatório, que entrou em vigor às 16h00 (horário de Lisboa) de terça-feira e deveria durar, em princípio, 24 horas.
O jornal "The Punch", também citando testemunhas oculares, indicou que 29 pessoas (27 civis e dois polícias) morreram em Lagos.
Uma testemunha anónima disse à BBC que por volta das 19h locais de terça-feira, militares “apareceram e começaram a disparar diretamente” sobre manifestantes pacíficos.
“Estavam a disparar e a avançar na nossa direção. Foi um caos. Alguém foi alvejado ao meu lado e morreu instantaneamente no local”. Foi um pandemónio e eles continuavam a disparar e a disparar. Durou cerca de uma hora e meia e os militares estavam a recolher os corpos”.
A testemunha acrescenta ainda que os soldados montaram barricadas no local e que, por causa disso, as ambulâncias não conseguiam chegar aos feridos.
O centro das manifestações situou-se no Estado de Lagos, onde se encontra a cidade homónima, a maior cidade de África e o coração económico da Nigéria, onde as autoridades impuseram, na terça-feira, um recolher obrigatório para conter as manifestações.
A decisão foi tomada depois de Lagos ter vivido mais um dia de protestos promovido pelo #EndSARS (Acabar com o SARS), movimento que conseguiu chamar a atenção internacional para as acusações de prisões arbitrárias, torturas e assassínios da unidade especial antirroubo (SARS, em inglês) da polícia nigeriana, que já foi, entretanto, dissolvida.
Os protestos também ocorreram em Abuja (capital federal da Nigéria) e em Estados como Kano (norte), Oyo (sudoeste), Ogun (sudoeste) ou Plateau (centro).
Segundo o jornal "The Punch", pelo menos 49 pessoas (43 civis e seis policiais) perderam a vida em todo o país, embora, mais uma vez, esses dados não tenham sido oficialmente confirmados pelas autoridades.
Os protestos atraíram a atenção de personalidades internacionais, como Joe Biden, candidato democrata às eleições presidenciais norte-americanas, que urgiu que as autoridades nigerianas parassem com a “violência contra os manifestantes”.
“Os EUA têm de se colocar ao lado dos nigerianos, que se manifestam pacificamente por uma reforma na polícia e que procuram terminar com a corrupção na sua democracia”, disse Biden numa declaração.
A ex-secretária de Estado dos EUA, Hilary Cinton, na madrugada desta quarta-feira, na sua conta no Twitter, instou o Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, a "parar de matar os jovens manifestantes do #EndSARS".
A cantora Rihanna também condenou na madrugada dsta quarta-feira a violenta repressão aos protestos no Twitter.
Nas últimas semanas, outras personalidades como o rapper Kanye West ou o cofundador do Twitter Jack Dorsey enviaram mensagens de apoio aos manifestantes por meio das redes sociais.
Após os protestos, o Governo nigeriano ordenou a dissolução da unidade antirroubo de elite no dia 11, uma diretiva que finalmente materializou as repetidas promessas do Presidente Buhari de acabar com a brutalidade policial e conduta antiética, das quais a SARS é acusada há anos.
A dissolução da unidade, porém, não parou os protestos, que evoluíram para um mal-estar geral da população contra as autoridades.