01 nov, 2020 - 16:12 • Reuters
A dois dias das eleições presidenciais nos EUA, Joe Biden continuava este domingo à frente nas intenções de voto a nível nacional, com sondagens a apontarem a vantagem do candidato democrata sobre o atual Presidente republicano, Donald Trump.
Ainda assim, Trump mantém viva a esperança de tornar a eleição de Biden mais difícil nos chamados estados "swing", que podem pender para qualquer lado da barricada política e que, em última instância, podem ser determinantes para decidir o vecendor da corrida à Casa Branca.
A margem nacional de Biden sobre o rival republicano tem-se mantido relativamente estável nos últimos meses, face à persistente crise de saúde pública que os EUA atravessam no contexto da pandemia de Covid-19.
De acordo com o mais recente inquérito de opinião do Ipsos para a Reuters, conduzido entre 27 e 29 de outubro, Biden segue com 51% das intenções de voto contra 43% para o Presidente Trump. Contudo, a mesma sondagem indica que Trump continua muito próximo de Biden em estados-chave suficientes para garantir o mínimo de 270 votos no Colégio Eleitoral de que precisa para ser reeleito Presidente -- neste caso na Flórida, na Carolina do Norte e no Arizona.
Trump também segue relativamente perto de Biden na Pensilvânia, no Michigan e no Wisconsin -- três outros estados de importância redobrada que garantiram a vitória do republicano no Colégio Eleitoral em 2016, apesar de Hillary Clinton ter vencido o voto popular.
Mesmo sem o Michigan e o Wisconsin, Trump ainda pode ganhar as eleições se conquistar uma maioria de votos nos restantes estados nos quais venceu em 2016.
O défice de Trump nas sondagens parece vir, em parte, de uma erosão de apoio entre dois grandes grupos que contribuíram para a sua vitória há quatro anos (brancos sem estudos superiores e os norte-americanos mais velhos), a par do descontentamento generalizado face à sua gestão da pandemia, que se tornou um tema central desta corrida eleitoral.
Biden e Trump têm adotado posturas completamente diferentes face à Covid-19, que já matou mais de 227 mil pessoas nos EUA e custou milhões de postos de trabalho à economia.
Trump tem repetidamente diminuído a ameaça sanitária e prometido que vai acabar com ela em breve, enquanto Biden continua a prometer fazer do combate à pandemia a sua prioridade, para limitar os efeitos mais severos do vírus.
Uma semana para as eleições
Os norte-americanos vão às urnas na próxima terça-(...)
Mais de três quartos dos adultos americanos dizem estar pessoalmente preocupados com a crise de saúde e quase 60% desaprovam a forma como Trump tem respondido a essa crise sanitária, indica a mesma sondagem Ipsos/Reuters.
Biden segue à frente de Trump também neste ponto, com mais gente a aprovar a sua estratégia de combate à pandemia. Cerca de 30% dos eleitores dizem que o seu voto este ano será primordialmente definido pela sua perceção de quem vai gerir melhor a pandemia nos próximos tempos.
Ainda que Trump mantenha uma ligeira vantagem sobre Biden no que toca à gestão económica dos EUA, essa tornou-se uma preocupação menor para muitos eleitores no contexto da pandemia de Covid-19. Na sondagem, apenas 21% dos prováveis eleitores (aqueles que estão registados e que dizem em inquéritos que "provavelmente" irão votar) admite escolher o próximo Presidente sobretudo com base na sua estratégia de crescimento económico e criação de emprego.
Trump e a sua administração não têm conseguido descolar-se da desaceleração económica e perda de postos de trabalho causadas por esta pandemia. Quase metade dos eleitores em três grandes "estados de batalha" -- Florida, Pensilvânia e Carolina do Norte -- culpam a "má liderança e más decisões políticas do Presidente Trump" pelo facto de muitas escolas e negócios ainda estarem encerrados.
A resposta de Trump à pandemia tem tido maior impacto negativo junto dos norte-americanos mais velhos, que enfrentam mais riscos em caso de infeção pelo coronavírus. As sondagens apontam um avanço de 4 pontos percentuais a Biden entre os eleitores com mais de 55 anos de idade, um grupo junto do qual Trump venceu com uma margem de 14 pontos percentuais sobre Hillary Clinton há quatro anos.
A vantagem de Trump junto de brancos sem estudos superiores, outro grupo preponderante para a sua vitória em 2016, também minguou neste ano de eleições. As últimas sondagens dão-lhe um avanço de 18 pontos percentuais sobre Biden junto deste grupo de americanos, contra uma margem de 30 pontos percentuais em 2016.
O candidato democrata também parece estar a conseguir reduzir os níveis de apoio a Trump entre mulheres brancas com cursos superiores, homens que vivem nos subúrbios e eleitores independentes (que não estão registados nem no Partido Democrata nem no Republicano).
Entre as primeiras, a última sondagem Ipsos/Reuters indica uma vantagem de 27 pontos percentuais a Biden, quando Clinton conquistou esse grupo em 2016 com apenas 15 pontos de margem.
Biden também surge à frente nas intenções de voto entre os independentes com uma margem de 18 pontos percentuais, contra a vantagem de 7 pontos conquistada por Trump há quatro anos entre estes eleitores.
Já no que toca a homens residentes nos subúrbios, Biden mantém uma liderança de 12 pontos percentuais; em março, quando a pandemia se instalou nos EUA, esse mesmo grupo estava a pender para Trump, que mantinha vantagem de 1 ponto percentual sobre o rival democrata.
"Trump nunca foi o tipo de político que tenta expandir o seu atrativo e isso tem sido verdade em toda a sua presidência e não apenas durante a campanha eleitoral", diz o estratego republicano Alex Conant. "A teoria dele é que não precisa de alargar a sua base de apoio porque os independentes que o escolheram em vez de votarem Hillary [em 2016] optariam sempre por ele contra qualquer outro democrata liberal."
A teoria provou-se difícil de sustentar face à candidatura de Biden, que concorre a estas eleições como moderado, após ter sido escolhido nas primárias democratas contra uma série de candidatos mais liberais.
Há mais de um mês, quase nove em cada 10 apoiantes de Biden e nove em cada 10 apoiantes de Trump diziam que estar "completamente certos" de que não mudariam de opinião chegada a hora de ir às urnas.
O que a mais recente sondagem da Ipsos/Reuters aponta é que só 6% de prováveis eleitores não apoia qualquer dos candidatos dos dois grandes partidos dos EUA. Há quatro anos, esse número de indecisos correspondeu ao triplo.