03 nov, 2020 - 15:36 • com Reuters
Dois homens de ascendência turca estão a ser elogiados como heróis pela sua ação durante os atentados de Viena, na noite de segunda-feira.
O ataque foi levado a cabo por pelo menos um jovem muçulmano, nascido na Áustria e filho de imigrantes da Macedónia do Norte, de etnia albanesa. Mas esta terça-feira o ministro do Interior Karl Nehammer, fez questão de sublinhar a forma como dois jovens, também de ascendência imigrante, tinham ajudado a salvar a vida a pelo menos um polícia.
A imprensa turca descobriu rapidamente a identidade dos dois homens, que já foram elogiados e apelidados de heróis pelo Governo de Ancara.
Recep Tayyip Gultekin e Mikail Ozen estavam a passear em Viena quando ouviram os tiros e foram investigar o que se estava a passar. Nessa altura viram o atirador a disparar sobre uma transeunte, ferindo-a, e foram em seu auxílio.
“Transportei a mulher ferida até um restaurante próximo”, disse Ozen à agência turca Anadolu, “depois o terrorista apontou-me a sua arma”. O jovem atirou-se para o chão, tendo ficado apenas levemente ferido numa perna.
“Entrámos no carro do meu amigo e fomos até à esquadra mais próxima para relatar o incidente”, afirmou ainda, dizendo que pelo caminho ajudaram uma idosa a pôr-se a salvo.
Terá sido já depois disto que os dois viram um polícia a ser atingido por um tiro. Outros dois agentes correram e deitaram-se em cima do seu colega para o proteger de mais tiros e Ozen e Gultekin também foram até ao local, apesar de os outros polícias lhes terem dito para se afastarem, por sua segurança.
“Eles estavam em choque, nós também. Os paramédicos estavam à espera. Olhámos um para o outro e fomos até lá. Fizemos o que foi necessário”, explica Ozen.
O jovem de ascendência turca, que é professor de artes marciais, explica que não teve dúvidas sobre como agir. “Enquanto muçulmano de ascendência turca quero dizer o seguinte: Eu vivo na Áustria, nasci na Áustria, fui à escola na Áustria e aprendi a minha profissão na Áustria. Se hoje acontecesse a mesma coisa eu faria tudo igual, sem pensar duas vezes. Porque vivemos na Áustria e estamos com a Áustria”.
O ministro do Interior, Karl Nehammer, sublinhou a ajuda prestada pelos dois homens. “É importante para mim referir que o polícia ferido foi auxiliado por dois austríacos de ascendência imigrante”, afirmou, sem referir os seus nomes.
O regime turco não perdeu tempo em elogiar o feito dos dois jovens, com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, a escrever no Twitter: “Ontem à noite houve dois heróis em Viena. Recep Tayyip e Mikail fizeram o que se espera de um verdadeiro turco e muçulmano!”
“Obrigado rapazes. Estamos orgulhosos de vocês!”, concluiu.
O incidente em Viena acontece numa altura em que o regime de Erdogan, da Turquia, está em conflito diplomático com vários países europeus. A Turquia liderou os apelos a que França proíba ou censure a exibição de cartoons de Maomé, depois de um professor francês, que os usou numa aula sobre liberdade de expressão, ter sido assassinado em Paris.
O Presidente francês, porém, insiste que nada fará para limitar a liberdade de expressão, cedendo aos terroristas, o que levou Erdogan a criticá-lo pessoalmente, sugerindo que Macron sofre de problemas mentais.
Embora não se saiba se existe uma ligação direta, o ataque em Viena surge na sequência de vários outros incidentes incluindo a morte de três católicos numa Igreja em Nice e o atentado contra um padre ortodoxo, de nacionalidade grega, em Lyon. No final da semana passada um grupo de dezenas de jovens, alegadamente de ascendência turca, atacou uma igreja em Viena.