03 nov, 2020 - 20:16 • Joana Azevedo Viana , Pedro Mesquita
Esta terça-feira, a partir das 23h em Lisboa, as urnas começam a fechar nos diferentes estados que compõem os Estados Unidos da América. Mais de 233 milhões de eleitores são chamados às urnas para escolher a composição do Congresso e o seu próximo Presidente.
Sabe quantos candidatos vão a votos? E se tivesse de adivinhar, quando é que acha que haverá uma noção clara de quem vai ser o vencedor? Explicamos-lhe tudo.
Quase todos saberão que as eleições estão a ser disputadas por dois candidatos: o republicano Donald Trump, atual Presidente dos EUA, que concorre com o seu vice, Mike Pence, e o ex-vice-presidente democrata, Joe Biden, que concorre com a senadora Kamala Harris.
Contudo, são quatro os candidatos cujo nome aparece no boletim de voto em toda a América. A par de Trump e Biden, são ainda concorrentes à Casa Branca Howie Hawkins e Jo Jorgensen, respetivamente do Partido Verde e do Partido Libertário, ambos movimentos políticos menores que nunca têm grande expressão no resultado das eleições presidenciais.
Se por acaso ouviu falar de outras candidaturas como a do rapper Kanye West, não está errado. Ao todo, estão registados na Comissão Federal Eleitoral dos EUA mais de 2.200 candidatos à presidência, cujos nomes só aparecem nos boletins de voto de um estado ou de um punhado deles.
Não. Os norte-americanos vão ainda escolher quem querem que represente o seu estado na Câmara dos Representantes e no Senado, respetivamente a câmara baixa e a câmara alta do Congresso federal.
Para além disso, em cada estado há eleições locais, para a governação e a legislatura estaduais, e ainda várias propostas de lei no boletim de voto que variam de estado para estado.
Em 2018, nas últimas eleições intercalares, cálculos do Pew Research Center apontavam para 233.7 milhões de eleitores elegíveis, espalhados pelos 50 estados dos EUA e o distrito federal de Columbia, onde fica a capital, Washington.
Há quatro anos, quando Trump derrotou a democrata Hillary Clinton nas eleições, participaram na votação 138 milhões de eleitores.
Quem vive nos cinco territórios autónomos do país, incluindo Porto Rico, só pode votar nas primárias -- em que cada partido escolhe o seu candidato à Casa Branca -- mas não nas eleições presidenciais.
Em média, cerca de 55% dos norte-americanos elegíveis votam nas eleições presidenciais. O recorde de participação eleitoral até hoje foi registado em 1888, quando 79,3% da população foi às urnas; o vencedor foi o democrata Grover Cleveland.
Este ano, por causa da pandemia de Covid-19, milhões de norte-americanos votaram antecipadamente por correio. De acordo com o Projeto Eleições EUA, da Universidade de Flórida, que tem monitorizado a participação eleitoral antes desta terça-feira de ida às urnas, mais de 98 milhões de pessoas já tinham votado até ontem -- que por correio, quer nos estados que abrem as urnas antes do dia das eleições.
"Estamos a assistir a uma coisa completamente inédita, que tem obviamente a ver com a pandemia, que é o facto de já terem votado, aproximadamente 100 milhões de americanos, e inclusivamente haver vários estados em que o número de votos postais e votos antecipados supera já a totalidade da participação eleitoral em 2016, isto sem contar com os votos de hoje", indica à Renascença Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais.
A nível nacional, as sondagens na véspera das eleições apontavam uma vitória do democrata Joe Biden, embora Trump esteja bastante próximo do democrata em estados de redobrada importância.
"Depois do que sucedeu em 2016, acho que temos de ser cautelosos", diz Pedro Magalhães. "É verdade que as sondagens são mais favoráveis para o Biden do que alguma vez foram para Hillary Clinton", admite o especialista.
Ainda assim, "tendemos a esquecer um pouco que houve um certo entusiasmo excessivo por parte de alguns comentadores e observadores e pouca atenção ao que se estava a passar no terreno".
Em 2016, "houve alguns estados em que as diferenças [de intenção de votos] entre Clinton e Trump eram pequenas e mesmo quando eram um pouco maiores, as sondagens terminaram muito cedo, e não tiveram a oportunidade de captar o movimento final do eleitorado favorável a Trump que lhe deu a vitória em estados como a Pensilvânia, o Michigan e o Wisconsin", explica.
Há diferentes fusos horários dentro dos EUA e diferentes horários para o fecho de urnas consoante o estado.
O importante a saber é: as primeiras urnas fecham às 23h (hora de Lisboa), nalgumas partes do Indiana e do Kentucky. As últimas fecham às 6h da manhã de quarta-feira no Alasca.
"Tudo se concentra obviamente nalguns poucos estados em que as eleições são tradicionalmente muito competitivas", responde Pedro Magalhães. "Vai estar toda a gente a olhar para a Pensilvânia, o Michigan e o Wisconsin, onde as vitórias de Trump em 2016 foram inesperadas."
As atenções também estarão focadas, adianta o especialista, "nos estados em que, há muito tempo, os democratas têm dificuldade em ter uma posição dominante e que, desta vez, essa possibilidade existe", como o Arizona e na Georgia.
Explicador
A duas semanas das presidenciais nos EUA, Donald T(...)
"E naturalmente olha-se sempre para o estado da Flórida, que é um estado que elege muitos [grandes] eleitores para o Colégio Eleitoral e que é dos estados cujos resultados vão ser conhecidos mais cedo e onde, tradicionalmente, há um peso muito aproximado ao que as sondagens confirmam desta vez", adianta o especialista à Renascença.
A importância da Flórida é tal que vários analistas antecipam que possa logo indicar uma vitória de Biden se for ele a conquistar o estado esta noite.
"A Flórida é bastante importante porque se a Flórida for democrata, o caminho que Trump tem até ser reeleito torna-se muito mais difícil e muito mais improvável", explica Pedro Magalhães.
Às 00h fecham as urnas em sete estados, incluindo na Georgia e na Flórida, dois estados com bastante peso no Colégio Eleitoral. Meia hora depois, as urnas fecham em mais dois estados a que toda a gente vai estar a prestar atenção este ano: Carolina do Norte e Ohio.
Ao contrário da maioria dos estados, a Flórida e a Carolina do Norte já terão uma noção de quem venceu no voto antecipado. Já na Georgia, por exemplo, como em vários outros estados, os votos por correspondência só começam a ser contados depois de as urnas fecharem.
À 1h, as urnas fecham em mais 22 estados, incluindo mais três que podem decidir estas eleições: Michigan, Pensilvânia e Texas. Uma hora mais tarde, começarão as projeções em mais três estados altamente disputados: Arizona, Minnesota e Wisconsin.
Face à quantidade provavelmente inédita de votos antecipados, e dado que cada estado tem diferentes regras de contagem de votos -- quer do dia eleitoral, quer os antecipados -- este ano é possível que demore alguns dias, ou até mais do que isso, até se conhecer o vencedor.
A situação inédita marca uma "transformação enorme", aponta Pedro Magalhães, e "o que essa transformação pode trazer é muito incerto" ainda.
Uma semana para as eleições
Os norte-americanos vão às urnas na próxima terça-(...)
"Em primeiro lugar, ambas as candidaturas, em particular a candidatura republicana mas ambas as candidaturas já contrataram centenas de advogados que estão preparados para contestar os resultados eleitorais e contestar, em particular, algumas modalidades e aspetos desta votação pelo correio", indica o especialista.
Neste momento, "há muito receio" do que acontecerá esta noite e nos próximos dias. "Trump tem sido bastante claro e bastante transparente na ideia de que esta eleição não se vai resolver esta madrugada se for uma derrota" da sua candidatura.
A ressalva? "Se os resultados de Biden e do Partido Democrata forem muito claros [esta noite], levantam-se duas questões: primeiro, saber se essa contestação [de Trump] poderá fazer alguma diferença, mas também saber se o Partido Republicano e toda a máquina republicana continua disponível -- se a derrota parecer clara -- para continuar a seguir Trump."