17 nov, 2020 - 20:52 • Lusa
Em apenas uma semana foram anunciados resultados de eficácia entre 90% e 95% para três vacinas experimentais para a Covid-19, duas norte-americanas e uma russa, com base em dados preliminares de ensaios clínicos na última fase.
Nesta corrida por uma vacina contra a doença causada por um novo coronavírus, surge um terceiro elemento, a China, que promete divulgar, ainda neste mês de novembro, os primeiros resultados de eficácia da sua vacina que está a ser testada no Brasil, na Indonésia e na Turquia.
Apesar das "notícias encorajadoras" sobre possíveis vacinas para a Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) continua a pedir cautela, uma vez que é necessário analisar mais dados para aferir com rigor o seu perfil de eficácia e segurança, sem o qual não podem ser administradas.
Esta terça-feira, a revista especializada "Lancet" noticiou que uma vacina chinesa demonstrou resultados seguros em ensaio clínico e induziu uma resposta de imunidade em voluntários saudáveis.
Eis o que já se sabe – e não se sabe – sobre as vacinas mais perto da certificação.
Em 09 de novembro, a multinacional farmacêutica norte-americana Pfizer e a parceira biotecnológica alemã BioNTech anunciaram que a sua vacina experimental para a Covid-19 tinha 90% de eficácia, partindo da análise de 94 casos de Covid-19.
Dois dias depois, o fabricante da concorrente russa Sputnik V anunciou uma vacina com eficácia de 92%, com base em dados de 20 casos.
Ontem, 16 de novembro, a empresa de biotecnologia norte-americana Moderna indicou que a sua vacina candidata é 94,5% eficaz na prevenção da Covid-19, tendo em conta a análise de 95 casos.
Tanto a vacina experimental da Pfizer como a da Moderna têm por base a tecnologia genética do ARN mensageiro, que usa o organismo da pessoa para produzir uma proteína-chave do coronavírus da Covid-19, no caso a proteína da espícula, "a porta de entrada" do vírus nas células, e estimula o sistema imunológico a criar anticorpos contra o vírus.
Uma vez injetado, este tipo de vacina instrui células saudáveis a fazerem cópias da proteína da espícula do coronavírus SARS-CoV-2, estimulando a produção de anticorpos neutralizadores.
Ao ser depois infetado com o vírus, o organismo consegue assim reconhecê-lo e combatê-lo.
A vacina experimental russa é diferente: induz a criação de anticorpos contra o coronavírus da Covid-19 através de dois adenovírus distintos que foram geneticamente modificados para produzir a proteína da espícula do SARS-CoV-2.
As vacinas candidatas da Pfizer e da Moderna são administradas em duas doses. A da Pfizer ao longo de três semanas, a da Moderna com quatro semanas de intervalo.
Os dois adenovírus modificados que entram na composição da Sputnik V, autorizada na Rússia antes de se iniciarem os ensaios finais de eficácia e segurança, são injetados com três semanas de intervalo.
Última hora
A vacina apresenta, assim, melhores resultados do (...)
Nesta questão, a vacina experimental da Moderna parece ganhar pontos à da Pfizer. A empresa biotecnológica Moderna sustenta que a sua candidata pode ser mantida, durante seis meses, a uma temperatura de -20ºC, o equivalente à temperatura da maioria dos congeladores de uso doméstico ou médico.
Em locais de administração da vacina, a temperatura de conservação pode subir a entre 2ºC e 8ºC, podendo a vacina ser guardada num frigorífico, sendo que, nestas condições de refrigeração, a Moderna espera que se mantenha estável durante 30 dias.
A candidata da Pfizer tem que estar armazenada a temperaturas bastante inferiores, abaixo dos 70ºC negativos, dias antes de ser usada, o que pode constituir um obstáculo logístico à sua administração.
A Pfizer e a Moderna pretendem pedir, ainda em novembro, autorização ao regulador norte-americano para o uso de emergência da sua vacina experimental contra a Covid-19, assim que dados adicionais atestarem a sua eficácia e segurança.
A Pfizer ambiciona ter até 50 milhões de doses disponíveis até ao fim de 2020, o suficiente para 25 milhões de pessoas, e produzir até 1,3 mil milhões de doses em 2021.
A União Europeia assinou um acordo com a dupla Pfizer-BioNTech para a compra de 200 milhões de doses, com a opção de aquisição de 100 milhões de doses adicionais. Ao todo, a Comissão Europeia já investiu em cinco potenciais vacinas para a Covid-19.
A Moderna espera produzir 20 milhões de doses até ao fim de 2020, o equivalente para vacinar 10 milhões de pessoas. O lote inicial terá como destino os Estados Unidos.
Os resultados de eficácia, ainda que iniciais, foram já anunciados pelos fabricantes das vacinas experimentais mas ainda não foram escrutinados cientificamente.
Por outro lado, são precisos mais casos confirmados de Covid-19 entre os milhares de participantes dos ensaios para consolidar o perfil de eficácia e segurança das vacinas em teste. A Pfizer aponta a fasquia para 164 casos e a Moderna para 151 antes de avançarem com o pedido de uso de emergência.
Não se sabe quanto tempo dura a proteção conferida por estas vacinas experimentais, se podem impedir que as pessoas (incluindo as que não têm sintomas) transmitam o vírus, se apenas reduzem as formas mais severas da doença ou se funcionam bem em grupos mais vulneráveis à infeção, como os idosos e ou com doenças crónicas.
A vacina candidata da Moderna parece, segundo a empresa biotecnológica, ser eficaz na prevenção das infeções mais graves, uma vez que não houve casos graves de Covid-19 entre os voluntários que receberam a vacina, por comparação a 11 pessoas que foram injetadas com um placebo.
“Uma vacina vai complementar as outras ferramentas(...)
De acordo com os dados preliminares da Moderna, apenas cinco participantes que receberam duas doses da sua vacina experimental ficaram doentes, contra 90 que receberam um placebo. A eficácia da potencial vacina foi medida decorridas duas semanas sobre a administração da segunda dose.
No caso da vacina candidata da Pfizer, não foi indicado pela farmacêutica quantos voluntários ficaram infetados depois de receberem a vacina ou o placebo. A eficácia da vacina experimental apontada, de 90%, num total de 94 casos identificados com Covid-19, foi medida uma semana depois de os voluntários terem recebido a segunda dose.
Ainda não decorreu tempo suficiente após a inoculação para se perceber se há efeitos indesejáveis significativos a longo prazo.
Alguns participantes no ensaio da Moderna manifestaram fadiga severa, dores musculares, nas articulações e de cabeça após a vacinação, efeitos que a empresa alega terem sido de curta duração.