25 nov, 2020 - 19:37 • Lusa
A avaliação negativa da gestão da pandemia e a influência de Boris Johnson no Brexit levam os escoceses a mostrarem-se cada vez mais favoráveis à independência.
Uma das sondagens mais recentes, realizada em meados de outubro pela empresa Ipsos Mori, regista um valor recorde de 58% de aprovação à saída da Escócia do Reino Unido.
"A opinião dos escoceses é que o governo escocês e [a chefe do governo] Nicola Sturgeon geriram melhor a pandemia e que o governo britânico e Boris Johnson geriram mal. Uma minoria, mas minoria significativa, dos que votaram "não" em 2014, chegou à conclusão, segundo as sondagens, que a Escócia teria gerido a pandemia de forma mais eficaz como país independente", afirmou John Curtice, especialista em sondagens, esta quarta-feira, durante um 'webinar' organizado pelo centro de estudos 'Institute for Government'.
O Reino Unido é o país europeu e o quinto a nível mundial, atrás dos EUA, Brasil, Índia e México, com o maior número de mortes de Covid-19, tendo contabilizado 56.533 oficialmente e 66.713 cujas certidões de óbito fazem referência ao novo coronavírus como fator contributivo.
Por outro lado, referiu, Johnson é também a pessoa mais associada com o processo do 'Brexit', desde o referendo em 2016 à saída formal do Reino Unido da União Europeia (UE) em 31 de janeiro.
"Boris Johnson teve um papel crucial em estimular o apoio à independência na Escócia e os defensores da união devem questionar-se se iria ajudar caso ele continuar à frente do Governo no caso de termos outro referendo", comentou.
Em 2014, 55% dos cidadãos escoceses votaram contra a separação da região do Reino Unido, uma clara vitória em comparação com 45% a favor da independência.
Em 2016, os escoceses votaram esmagadoramente (62%) contra a saída da UE, contra 52% no total do Reino Unido, o que ditou o 'Brexit'.
Boris Johnson recusou autorizar um novo referendo sobre a independência pedido por Nicola Sturgeon, mas os analistas políticos consideram que uma vitória substancial do Partido Nacionalista Escocês (SNP) nas eleições regionais de maio de 2021 pode colocar pressão sobre Londres.
A professora de Direito Sionaidh Douglas-Scott disse que um entendimento entre o governo britânico e governo escocês, tal como aconteceu em 2014, é a via "preferencial" porque é importante a comunidade internacional reconhecer o processo.
"É importantes as regras serem aceites, nomeadamente pela União Europeia" para haver a possibilidade a Escócia de aderir ao bloco europeu, vincou a académica nas universidades Queen Mary, em Londres, e Princeton, nos Estados Unidos.
"Declarações unilaterais de independência como fez o Kosovo não são ilegais, mas muitos países recusaram reconhecer declarações unilaterais.
A hipótese de um referendo consultivo também tem sido debatida, mas Douglas-Scott lembrou os "problemas práticos" que enfrentou a consulta realizada na Catalunha em 2017, "cujo resultado não foi aceite nem teve uma grande participação".