26 nov, 2020 - 19:16 • Filipe d'Avillez Lusa
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O abate de 17 milhões de visons na Dinamarca nunca iria ser um espetáculo bonito, mas poucos esperavam que a decisão, tomada por razões sanitárias, continuasse a assombrar o país semanas depois de ter sido tomada pelo Governo.
O abate foi ordenado por terem sido detetados surtos de infeção com coronavírus em várias produções de vison, uma indústria que na Dinamarca emprega cerca de seis mil pessoas e vale cerca de 670 milhões de euros por ano em exportações de peles. Entre as estirpes de coronavírus encontrava-se uma que, caso se propagasse a humanos poderia pôr em causa a eficácia das vacinas que estão a ser desenvolvidas para a Covid-19.
O Governo não hesitou e mandou abater toda a população de visons no país, arruinando de uma assentada toda a indústria de produção de vison dinamarquesa. O problema, como o próprio executivo se viu obrigado a reconhecer, é que o Estado não tem qualquer base legal para mandar abater animais saudáveis. O erro custou o cargo ao ministro da Agricultura.
Esta quinta-feira a primeira-ministra, Mette Frederiksen, desfez-se em lágrimas depois de ter ido visitar uma produção de visons. Em declarações aos jornalistas afirmou que “temos aqui duas gerações de produtores de altíssima qualidade, pai e filho, que em muito, muito pouco tempo viram todo o trabalho das suas vidas destruído”, disse Frederiksen. “Tem sido um tempo emocional para eles, e… peço desculpa, para mim também”, concluiu, já em lágrimas.
O episódio do abate dos 17 milhões de animais foi agravado pelo facto de os seus restos mortais não terem sido tratados de forma correta. Numa base militar onde foram abertas valas comuns para receber os cadáveres tornou-se aparente que estas não tinham profundidade suficiente. A emissão de gases devido à decomposição dos animais fez com que milhares de corpos de vison emergissem novamente, proporcionando um espetáculo degradante e imagens que começaram a circular rapidamente nas redes sociais.
As autoridades procuram agora tapar novamente as valas, com mais terra e já disseram que as próximas sepulturas terão de ser mais profundas. O perigo de propagação continua a ser real, pois apesar de esta se fazer principalmente por vias respiratórias, há ainda quantidades significativas do vírus nos cadáveres dos animais para apresentar um risco.