03 dez, 2020 - 07:00 • Nelson Arruda*
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A Informação circula depressa quando se vive numa ilha de pouco mais de 30 quilómetros quadrados. Tão depressa como a propagação de um vírus mortal.
A experiência desta pandemia é algo que nunca tinha sentido na minha vida. Um verdadeiro choque.
As Bermudas foram muito proativas na sua preparação para a Covid-19 e isso deu-nos uma vantagem, uma vez que o primeiro caso chegou semanas depois dos Estados Unidos e da Europa.
Em abril entrámos num confinamento de duas semanas, mas em breve essas duas semanas transformaram-se num mês inteiro. Para o mundo exterior o isolamento foi ainda mais longo, uma vez que o nosso aeroporto esteve encerrado entre abril e o dia 2 de julho.
No meu caso não foi tão duro porque enquanto gestor de um supermercado era considerado um trabalhador essencial, por isso pude andar livremente fora de casa, para ir trabalhar
Por vezes, a minha ilha parecia uma cidade fantasma. Andava durante 10 minutos na minha mota, entre Southampton, onde vivo, e Devonshire, onde trabalho, sem ver qualquer outro veículo.
O Governo tornou obrigatório o uso de máscaras e tem encorajado medidas sanitárias como lavar as mãos e manter as distâncias.
Mesmo depois de ter sido levantado o confinamento, o Governo continuou a ter uma abordagem cautelosa, restringindo os ajuntamentos, incluindo para cultos religiosos, casamentos, funerais e até mesmo para refeições.
Calcula-se que cerca de um em cada quatro pessoas nas Bermudas tenha ascendência portuguesa. Muitos, como eu, já nasceram cá. A Igreja Católica desempenha um papel importante na identidade da nossa comunidade e por isso foi difícil as igrejas estarem fechadas.
No caso da minha família sentimos isso na pele. O meu pai morreu em março e como já estávamos num período de confinamento os serviços religiosos foram muito limitados. Sem missas, apenas pudemos estar presentes no enterro.
Nesta altura as Bermudas têm um registo de 239 casos de Covid-19 e de apenas 9 mortes, o que não é nada mau para uma ilha de 60 mil habitantes.
Nelson Arruda nasceu nas Bermudas, uma dependência britânica no Atlântico do Norte. É de lá que vai acompanhando como pode o futebol e o desporto português, com destaque para o Benfica e o Miguel Oliveira.