08 dez, 2020 - 17:47 • Shotaro Hayashi*
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Tendo em conta a população do Japão, a pandemia de Covid-19 não nos atingiu de forma particularmente dura, pelo menos em termos de saúde. Temos mais de 126 milhões de habitantes e até ao momento sofremos apenas pouco mais de 2.100 óbitos.
O resultado é que as nossas restrições não têm sido tão duras como noutros países e, por exemplo, as pessoas podem ir a restaurantes.
Em termos pessoais, contudo, estes meses têm sido bastante complicados.
Eu sou um Assistente Financeiro. O meu trabalho implica aconselhar os meus clientes sobre como podem viver em segurança sem terem de se preocupar com o seu dinheiro. A verdade é que precisamos de dinheiro, mas este não deve ser o nosso principal objetivo, antes deve ser uma ajuda para nos ajudar a viver.
Até à chegada da pandemia eu gostava de contactar com os meus clientes diretamente, por isso ia sempre trabalhar para o escritório. Mas com o vírus tudo isso mudou e por isso tenho estado a trabalhar sempre a partir de casa.
Acabei por me habituar ao teletrabalho e já se tornou mais conveniente, mas continuo a ter vontade de falar diretamente com os meus clientes.
Para as crianças também foi difícil. De março a maio, durante a primeira vaga, as escolas estiveram fechadas e havia aulas à distância, mas apenas cerca de uma hora por dia. Durante o resto do tempo elas pareciam muito aborrecidas, sem nada para fazer. Se para nós este período foi difícil, imagino para elas!
Enquanto elas estavam em casa eu não podia usar o seu quarto, por isso tinha de trabalhar a partir da minha cama, ou mesmo da casa de banho, porque não tinha o meu próprio espaço de trabalho em casa. As casas japonesas tendem a ser mais pequenas do que as portuguesas, pelo menos do que me lembro dos três anos que vivi em Lisboa quando era mais novo.
Agora que elas já voltaram às aulas presenciais posso usar o quarto delas para trabalhar, falando com os meus clientes através de programas como o Zoom e outros.
Esses tempos em que estávamos todos fechados em casa foram complicados. No Japão as pessoas tendem a valorizar mais o trabalho do que a família e não foi fácil estarmos todos juntos durante tanto tempo. Como eu e a minha mulher trabalhamos os dois, acabámos por discutir muito sobre quem é que podia trabalhar e quem é que ficava a tomar conta das crianças quando estas estavam em casa.
Houve mesmo um fenómeno a que se chamou “divórcios corona” que afetou muitas famílias. Felizmente, entre mim e a minha mulher já está tudo bem e o pior já passou. De corona, nem o vírus nem os divórcios nos apanharam.
*Shotaro Hayashi tem 35 anos e vive em Tóquio com a sua mulher e duas filhas. Filho de um diplomata, viveu três anos em Portugal na sua infância, fazendo amigos para a vida, incluindo António Vieira da Cruz, na foto com a família.