15 dez, 2020 - 06:33 • Maria João Trindade*
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A entrada em 2020 foi certamente diferente. Uma viagem há muito desejada, desta vez numa altura do ano em que habitualmente celebramos com a família que nos últimos anos se tem juntado a nós para uns Natais mornos e solarengos. Desta vez não foi o caso.
Mesmo assim, as boas-vindas ao novo ano tiveram uma grande dose de magia (ou não estivéssemos nós na casa do Mickey!) até porque se deixava para trás uma década para se começar outra, seguramente com novas histórias para contar. Nada adivinhava o que aí vinha, mas isto acho que tínhamos em comum com o mundo inteiro.
Desde que os primeiros casos se começaram a revelar para além da China que não passou muito tempo até aparecerem também em Omã, país no Médio Oriente onde vivemos há oito anos. Pouco depois foi ordenado que as escolas fechassem, que as pessoas se mantivessem em casa, que as lojas e restaurantes fechassem as suas portas.
O número de casos aumenta e até a curva começar a baixar viveram-se muitos momentos de incerteza, receio, frustração e até desconfiança. Pelo que vou lendo e vendo, Omã não é caso único no que ainda agora descrevi.
Parece que o número de infectados tem estado a baixar, entre recolheres obrigatórios e confinamentos muitas vezes anunciados de véspera. Não o suficiente para podermos voltar a respirar sem ser atrás de uma máscara, mas pouco a pouco temos vindo a tentar encontrar alguma normalidade naquilo que nada tem de normal.
Omã tem vindo a ajustar as suas restrições e medidas de acordo com a evolução da situação, com o que sabem sobre a doença e também com o que sabem sobre a forma de pensar e agir das suas gentes. Com uma população com cerca de 40% de expatriados, para muitos, a pandemia significou o fim das suas histórias neste país. Um país que para (quase) todos os que cá viveram, faz parte dos momentos que mais recordam com saudade, pelas pessoas que se vão conhecendo, pelo convívio que se vai fazendo e pelos lugares que se vão sentindo.
E é exatamente por estas razões, pelas razões que fazem de Omã um país tão sensorial, que se torna especialmente difícil aqui viver meses a fio de mais ou menos isolamento, de escolas mais ou menos fechadas e de lugares mais ou menos interditos.
Por cá, nós continuamos a acordar todos os dias gratos por mais um dia de sol, determinados a continuar a sentir e a não fazer das memórias deste ano aquelas que irão marcar a nossa passagem por cá. Até porque não há dia em Omã que os minaretes das mesquitas, agora vazias, não nos digam que o dia está prestes a começar.
*Maria João Trindade é natural do Porto. Vive e trabalha numa escola internacional em Mascate, a capital de Omã. Para lá se mudou em 2013 com o marido Paulo Trindade e o filho mais velho, Manuel e foi lá também que nasceu o António, dois anos depois.